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QUAIS SÃO AS FUNÇÕES DE UMA JANELA?

*Por Fernando Simon Westphal, consultor técnico da Abividro, engenheiro civil, professor e pesquisador da UFSC


Divulgação

Dias atrás eu me deparei com um artigo publicado em 1967, onde o autor, Thomas Markus, arquiteto formado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, sigla em inglês), nos Estados Unidos, traz uma discussão sobre os critérios de projeto para as janelas [1]. O texto me chamou a atenção por ser antigo e tratar de temas atuais. Outro detalhe interessante é que o autor se surpreende ao identificar que existem muitas pesquisas em torno do impacto energético das janelas e poucos trabalhos que tratam da sua função fundamental: a conexão com o exterior.


Passados 50 anos, o cenário é praticamente o mesmo: muito se fala em consumo de energia relacionado ao uso do vidro nas edificações e poucos trabalhos tratam dos benefícios proporcionados pelas janelas.


Em seu texto, o arquiteto enumera as funções de uma janela: admissão de luz natural, insolação, ventilação, contato visual, controle de privacidade e estética. Ao explorar o efeito visual das aberturas, o autor faz análises interessantes sobre o impacto da geometria das janelas na experiência do usuário da edificação. Salienta que nas residências as pessoas preferem a incidência de sol direto, especialmente em localidades mais frias, mesmo durante o ano inteiro. Ao tratar de ambientes de escritório, o autor descreve um levantamento feito num edifício de Londres, com 400 funcionários. Este estudo de caso revelou que 86% dos respondentes preferem a incidência de sol o ano inteiro no escritório. E quando questionadas sobre o que gostariam de ver através das janelas, 88% das pessoas disseram que preferem ver a “paisagem e a cidade distante”, em segundo lugar “o céu” e em terceiro “o nível da rua e arredores da edificação”.


A qualidade das vistas através das janelas começa a ganhar espaço em pesquisas recentes. Uma publicação conjunta entre pesquisadores da universidade Berkeley (Estados Unidos) e Singapura (Península Malaia, no Sudeste Asiático), deste mês de abril, traz uma análise da geometria das janelas e a satisfação dos ocupantes de um edifício de escritórios [2]. Quarenta participantes do estudo foram submetidos a imagens simuladas em realidade virtual e responderam questões relacionadas ao grau de satisfação com as vistas. Os autores então correlacionaram as respostas com o ângulo de visão, o percentual de abertura da fachada, distância da estação de trabalho à janela, direção da visão e percentual de janela no campo de visão. Os resultados mostraram que a área de janela, distância e direção da visão (se paralela ou perpendicular às janelas) eram os três principais parâmetros que definem a satisfação visual.


Vistas satisfatórias são alcançadas com pelo menos 25% de área de janela nas fachadas, sendo este o percentual mínimo recomendado pelos pesquisadores. Eles também destacam que acima de 65% de área de abertura não há acréscimo significativo no grau de satisfação. Eu costumo defender o valor intermediário, uma fração de 40% de área de janela nas fachadas como uma proporção satisfatória para promover bom contato visual com o exterior e bom desempenho energético em edifícios de escritórios em nossos climas.


Nas edificações residenciais existe uma preocupação maior com o efeito benéfico das janelas na saúde das pessoas. Uma ampla pesquisa realizada em oito cidades europeias entre os anos 2002 e 2004 traz um resultado interessante [3]. Existe uma relação entre a má qualidade da iluminação natural nas residências e ocorrência de depressão e quedas no interior das habitações. As quedas foram investigadas porque ocasionam faltas e atrasos significativos ao trabalho e poderiam ser evitadas por melhores condições de iluminação nas residências. Das 6.017 pessoas que participaram do levantamento, 13% eram depressivas, com diagnóstico ou que apresentavam sintomas da doença. Um terço delas se queixavam da qualidade da iluminação em suas residências. Analisando estatisticamente os dados, os autores concluem que pessoas em habitações com iluminação natural inadequada estão 1,3 vezes mais propensas a sofrerem de depressão e têm 2,5 vezes mais chances de sofrer uma queda.


Embora as questões energéticas e de conforto ambiental estejam sempre em discussão quando se trata de vidros e janelas, é importante resgatarmos a função fundamental das esquadrias: garantir o contato visual e o acesso ao sol. Os diferentes tipos de vidros e esquadrias nos permitem balancear os recursos e oferecer maior grau de satisfação e saúde aos usuários.


Referências:


[1] Thomas A. Markus, The function of windows — A reappraisal. Building Science, Volume 2, Issue 2, 1967. Pages 97-121, ISSN 0007-3628. Disponível em: https://doi.org/10.1016/0007-3628(67)90012-6


[2] Won Hee Ko, Stefano Schiavon, Luis Santos, Michael G. Kent, Hanwook Kim, Mohammad Keshavarzi. View access index: The effects of geometric variables of window views on occupants’ satisfaction. Building and Environment. Volume 234, 2023. ISSN 0360-1323. https://doi.org/10.1016/j.buildenv.2023.110132


[3] Brown M. J., Jacobs D. E. Residential light and risk for depression and falls: results from the LARES study of eight European cities. Public Health Rep. 2011 May-Jun;126 Suppl 1(Suppl 1):131-40. https://doi.org/10.1177/00333549111260S117


*Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.

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