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INSTALADA COMISSÃO DE ESTUDOS DA ABNT SOBRE ENVIDRAÇAMENTO AMIGÁVEL AOS PÁSSAROS

*Por Fernando Simon Westphal


Edifício Ayahuasca fachada de copós de concreto
Edifício Ayahuasca, no Complexo Cidade Matarazzo, em São Paulo. Sua fachada, assinada pelo arquiteto francês Rudy Ricciotti, destaca-se pelo desenho dos cipós de concreto, resultando em integração ao paisagismo do entorno e proteção aos fechamentos envidraçados/Divulgação

No último dia 5 de dezembro, o Comitê Brasileiro de Vidros Planos, o ABNT/CB-37, realizou sua primeira reunião da comissão de estudo instalada para elaboração de documento técnico sobre envidraçamento amigável aos pássaros.


A ocasião reuniu um grupo multidisciplinar, envolvendo mais de 20 profissionais com conhecimento técnico sobre vidros, esquadrias, biologia, além de representantes de associações de observadores de aves. A reunião se estendeu por cerca de 3 horas e abordou os aspectos que se sabem sobre o choque ocasional de aves em fechamentos envidraçados, bem como as medidas mitigadoras para evitar esses acidentes. Algumas processadoras e fabricantes de vidros já apresentaram produtos destinados à mitigação do problema e disponíveis no mercado nacional.


Toda atividade humana provoca um impacto no habitat natural. Ciente disso, a indústria vidreira tem se dedicado a mitigar ou compensar esse impacto em diferentes aspectos. Seja pelo uso de fontes de energia mais limpas, programas de reciclagem e reúso de materiais e agora pelo possível impacto que a utilização dos produtos pode causar no entorno urbano.


O que pesquisas indicam até o momento é que uma ave pode se chocar em uma área envidraçada, por menor que seja, caso não consiga identificar o vidro por ser totalmente transparente ou por ser refletivo demais. No primeiro caso, a ave considera que ali pode haver uma passagem e acaba se chocando durante o voo. Na segunda situação, a ave enxerga uma paisagem refletida – céu ou vegetação – e interpreta que poderia seguir seu voo tranquilamente. Constata-se também que esse tipo de acidente ocorre em andares mais baixos das edificações e em regiões das fachadas envidraçadas mais próximas a massas de vegetação. As aves descem em direção à vegetação e podem se confundir com o reflexo ou transparência dos vidros, levando ao choque acidental, seja durante a descida ou a decolagem.


Sabendo dessas causas, as medidas mitigadoras começam a aparecer e tudo caminha no sentido de criar obstáculos, barreiras e formas para possibilitar a identificação do vidro. Podem ser utilizados obstáculos físicos externos à fachada, como brises, telas e venezianas; ou incorporados ao vidro, como serigrafia, PVB com imagens e marcações. Sabe-se também que aquela estratégia de colar adesivos na forma de aves de rapina é uma lenda urbana. Eficácia maior para evitar o choque das aves seria o uso de padrões geométricos, como listras, pontos e malhas quadriculadas, com razoável proximidade entre as imagens – algo em torno de 20 a 25 cm.


Outra medida possível, colocada na mesa de discussão, foi a utilização de adesivos ou PVBs com imagens invisíveis ao olho humano, mas visíveis aos pássaros, em faixas do espectro ultravioleta. Entretanto, cabe avaliar se diferentes espécies de pássaros enxergariam na mesma faixa de frequência. Nessa mesma linha, de criar dispositivos que não interfiram no aspecto estético das fachadas, existe a possibilidade de emissão de ondas sonoras em frequências audíveis pelos pássaros, por meio de dispositivos instalados nas fachadas. Esse recurso é utilizado em alguns aeroportos e pistas de pouso e decolagem de aviões e seu estudo pode ser ampliado para verificar a eficácia na dispersão de aves urbanas.


A comissão de estudo colocou na pauta também o planejamento para execução de um “túnel de voo”, uma estrutura para ensaio laboratorial com o intuito de estudar o comportamento das aves diante de diferentes estratégias de mitigação do impacto dos animais em fechamentos envidraçados.


Por fim, os membros da comissão sinalizaram inicialmente para a elaboração de uma prática recomendada, visando consolidar o conhecimento técnico e científico sobre o assunto para posterior elaboração de uma norma técnica relacionada ao tema. Uma preocupação que ficou evidente na reunião é como adotar estratégias mitigadoras, sem prejudicar o contato visual com o exterior e admissão de luz natural proporcionados pelos fechamentos envidraçados e com impacto estético aceitável. A comissão voltará a se reunir em fevereiro de 2024.


*Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.

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