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CERTIFICAÇÕES AMBIENTAIS

*Por Fernando Simon Westphal, consultor técnico da Abividro, engenheiro civil, professor e pesquisador da UFSC


Reprodução: Celere

A certificação ambiental de edificações passou a ganhar mais espaço no mercado corporativo brasileiro em meados dos anos 2000. Em 2009, tivemos os primeiros edifícios core and shell certificados no LEED: o Rochaverá, em São Paulo, e o Ventura, no Rio de Janeiro. Esse último eu tive o privilégio de participar do processo de documentação, para comprovar o atendimento aos padrões mínimos de eficiência energética de acordo com a norma americana ASHRAE Standard 90.1.


Edifícios core and shell são os construídos para locação, onde o proprietário (a incorporadora) entrega, além da envoltória (shell), apenas o núcleo de instalações (core), sem o layout interno, que será providenciado posteriormente pelos locatários.


Quando se busca uma certificação ambiental, o requerente quer a garantia de que suas medidas têm de fato a eficácia pretendida. A grande vantagem de uma certificação por terceiros, como o LEED, AQUA-HQE e PROCEL EDIFICA é permitir a comparação de diferentes empreendimentos com os mesmos parâmetros de referência, fornecendo uma avaliação imparcial ao consumidor final.


Por ser o item de maior representatividade no ganho de calor pela envoltória de edificações em climas quentes, o vidro tem papel importante nessas avaliações. Em geral, as normas de eficiência energética estabelecem parâmetros de referência para as fachadas da edificação, definidos pela transmitância térmica dos fechamentos (paredes, coberturas, pisos, esquadrias e vidros) e fator solar dos vidros. O projeto a ser certificado ou etiquetado deve comprovar atendimento ao nível mínimo de eficiência energética, ou seja, consumo de energia igual ou menor do que o modelo de referência. A avaliação é feita por simulação computacional.


Um modelo virtual do projeto é representado na ferramenta de simulação e seu desempenho é avaliado por comparação com outro modelo elaborado com os parâmetros de referência da norma. Como alguns prédios usam diferentes fontes de energia além da eletricidade, como gás natural ou óleo diesel em geradores, e contam com diferentes estruturas tarifárias que avaliam também a demanda máxima de energia mensal, a avaliação costuma ser feita pelo custo da energia ou índices de equivalência, como a tonelada equivalente de petróleo (tep). No Brasil, o software mais utilizado para fazer esse tipo de simulação é o EnergyPlus, que é gratuito e tem o seu desenvolvimento financiado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos.


A certificação de maior notoriedade no Brasil é o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Em relação aos vidros, a norma de eficiência energética americana estabelece que o modelo de referência deve ter mesma área de janelas do projeto, mas limitada a 40%. Isso significa que se um projeto possui 50% de área transparente na fachada, o seu desempenho será avaliado contra um modelo com 40% de área de janelas. Além disso, o modelo de referência preconizado pela norma considera vidros com fator solar de 0,25. Alcançar esse nível é muito difícil com um vidro laminado, podendo resultar em uma especificação com baixa transmissão luminosa.


Por isso, costumo dizer que os projetos brasileiros saem perdendo no quesito “envoltória”, pois mesmo que tenhamos baixa área de abertura nas fachadas, dificilmente utilizaremos um vidro com fator solar de 0,25. Em geral, as fachadas dos edifícios certificados no Brasil adotam entre 40% e 60% de área de janelas nas fachadas, com vidros de fator solar entre 0,30 e 0,40. Alguns projetos utilizam vidros insulados, mas com fator solar nesta mesma ordem de grandeza.


Conseguimos superar a eficiência do modelo de referência compensando o desempenho da envoltória com outras estratégias, como sistemas de ar-condicionado e iluminação de alta eficiência, recuperação de calor na tomada de ar exterior, automação de exaustão de garagens, dos elevadores e da iluminação interna (aproveitando a luz natural). A ventilação natural é adotada em empreendimentos em que a operação das janelas é viável, tais como edificações de pequeno porte e galpões logísticos. Em geral, os edifícios core and shell com fachadas em pele de vidro não permitem explorar o uso da ventilação natural por questões de isolamento acústico. Essa é uma barreira ainda a ser explorada quando se fala em projetos eficientes. As fachadas em pele de vidro resultam sim em maior consumo de energia, mas o acréscimo é sutil e compensado por outras estratégias de eficiência energética.


Edifício Torre Matarazzo, localizado na Av. Paulista, em São Paulo (SP). Com sistema de ar-condicionado de alta eficiência e vidros de controle solar de alto desempenho, o prédio possui todas as fachadas em pele de vidro e recebeu a certificação LEED nível Gold. Projeto: Aflalo e Gasperini Arquitetos./Divulgação

Links para leitura complementar:


Certificação LEED: https://www.usgbc.org/leed

Etiquetagem PROCEL/INMETRO: https://www.pbeedifica.com.br/inicio


*Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.

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