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CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS CULTURAIS DA ARQUITETURA JAPONESA

Atualizado: 4 de out. de 2021

Por Stephanie Fazio


Os arquitetos Audrey Dias e Cesar Shundi Iwamizu analisam as características das obras do país



Olhos voltados para Tóquio, além das Olimpíadas e, a partir do próximo dia 24 de agosto, dos Jogos Paralímpicos, a arquitetura local também desperta a sensação de êxito.


As construções tradicionais japonesas, como casas com tetos em forma de “chapéu” e diferentes templos, possuem influência da cultura chinesa. Já os prédios japoneses modernos utilizam conceitos ocidentais adaptados para atender a paisagem e as necessidades do país, conforme o portal Japan Endless Discovery.


A arquitetura do país tem como essência os elementos da natureza, com o emprego de materiais como pedras e madeira, segundo Audrey Dias, arquiteta e sócia-diretora da Aluparts, empresa especializada em consultoria de esquadrias e vidros. Ela acrescenta que é característica das obras do local trabalhar a iluminação e as texturas como forma de oferecer conforto visual e aconchego. “Os vidros estão sempre presentes, pois valorizam a exaltação e a contemplação do meio externo”.


“No Japão, geralmente não se pinta a madeira, que é deixada ao natural para que a textura do material possa ser apreciada. Os interiores das casas eram construídos com portas de correr de papel, que podiam ser removidas e reorganizadas para criar ambientes diferentes”, ainda de acordo com o site Japan Endless Discovery.



Distante das obras paradigmáticas dos eventos mundiais midiáticos das últimas décadas, a tônica das Olimpíadas de Tóquio foi a reutilização de edifícios, a contenção e o uso consciente dos recursos, de acordo com Cesar Shundi Iwamizu, arquiteto e professor de Projeto Arquitetônico na FAU Mackenzie. Ao todo, foram 43 locais planejados para sediar os jogos: oito deles novos e permanentes, 10 instalações temporárias e 25 já existentes que foram reformadas, segundo o site Casa Cor.


“Estão adequados ao momento de crise em que vivemos, mas talvez também relacionados a aspectos da arquitetura tradicional japonesa, como simplicidade, relação com o meio ambiente e flexibilidade dos espaços”, diz o professor.


OBRAS ICÔNICAS QUE MARCARAM AS OLIMPÍADAS


O Estádio Nacional do Japão, projetado por Kengo Kuma e inaugurado em 2019, foi um dos poucos edifícios produzidos especificamente para o acontecimento dos jogos olímpicos. Escolhido após o abandono do projeto de Zaha Hadid, selecionado em Concurso Internacional de Projeto e alvo de grandes críticas, devido ao alto custo para sua construção e sua escala arrojada, segundo Cesar.


Estádio Nacional do Japão/Reprodução: ArchDaily

Audrey relembra que a obra foi palco principal das Olimpíadas, construído no lugar onde ficava o antigo estádio olímpico, abrigou as cerimônias de abertura e de encerramento, os jogos de futebol e as provas de atletismo.


O projeto de Kuma se caracteriza pelo emprego de estruturas mistas, mesclando elementos de concreto armado e cobertura de estrutura metálica e madeira, segundo o professor. O profissional é conhecido por assinar projetos com formas orgânicas e traços inspirados na natureza, que enfatizam a preocupação com os cuidados ambientais, de acordo com Audrey. “Ele ficou internacionalmente famoso por reinterpretar as tradições construtivas japonesas, misturando de forma contemporânea a obra e a paisagem”, aponta.



“Do ponto de vista formal, a estrutura se caracteriza pela sequência de beirais que marcam os andares, ao mesmo tempo que protegem as circulações e viabilizam a ventilações cruzadas em seu interior”, detalha o arquiteto.


Conforme Audrey, o Estádio Nacional do Japão foi concebido com uma geometria oval, inteiramente envolvida por terraços e um grandioso teto de vidro para melhor aproveitamento da luz do sol, que protagoniza uma especial interação com o espaço. “Já a fachada é composta de beirais sobrepostos de múltiplas camadas de madeira de origem local, que impressionam pela beleza e preciosidade”, descreve.


A arquibancada do espaço conta com assentos protegidos sob uma treliça de madeira com estrutura de aço, expondo todo o domínio e tecnologia em engenharia, inteira ela. Além da preocupação em resgatar as heranças culturais japonesas, nesta construção houve também o cuidado em não extrapolar o orçamento previsto para o evento, informa a arquiteta.


OUSADIA NO USO DO VIDRO


Idealizado pelo arquiteto Rafael Viñoly, o edifício do Fórum Internacional de Tóquio possui hall de recepção com 60 m de altura, composto por uma grandiosa estrutura de aço e vidros laminados de segurança. Para Audrey, o monumento é um exemplo de ousadia e engenharia. Inaugurado em 1997, conta com técnicas de fachada que, até então, não eram conhecidas ou trabalhadas no Brasil.


Fórum Internacional de Tóquio/Reprodução: Official Website Tokyo International Forum

Ela comenta que a obra impressiona pela arquitetura futurista que remete à figura de um barco alongado, “formado por dois grandes arcos envidraçados pendurados e unidos por uma claraboia de vidros, entrelaçada por longos cabos tensionados e vigas arqueadas”, descreve.


O grande recinto de entrada cria uma barreira ao longo da linha férrea, ao mesmo tempo que se abre a uma passagem pública capaz de conectar as ruas do bairro, razão que justifica o emprego de estrutura metálica expressiva e grandes áreas envidraçadas, afirma o professor.


Escolhido em um dos mais emblemáticos Concursos Internacionais de Projeto dos anos 1990, a obra se caracteriza por sua relação com o entorno, sobretudo, com a linha férrea, que delimita o sítio, e com a geometria irregular do lote, que acomoda de modo sequencial as salas de espetáculos e conferências, de acordo com Cesar.


A grande fachada envidraçada permitiu a entrada de luz natural na área do saguão abaixo do solo, relata a arquiteta. “Espaços públicos com assentos, repletos de árvores e ventilação natural refletem um ambiente muito bem projetado para momentos agradáveis”, analisa.


REFLEXÕES


“Os arquitetos japoneses lidam com projetos verdadeiramente humanos, onde há o perfeito equilíbrio entre as raízes culturais e o moderno”, reflete Audrey. Em sua visão, a arquitetura japonesa aproxima, acolhe e cria vínculos entre o criador e a criatura, com um olhar especial para a formação de conexão entre as pessoas, os espaços e o entorno, explica.


A cultura do país se baseia na filosofia Wabi Sabi, que promove a beleza das coisas imperfeitas, incompletas e impermanentes, ou seja, dos elementos modestos, segundo a arquiteta.


Após episódios de desastres naturais que marcam a história do país, ela conclui que “viver no Japão é saber que a qualquer momento pode ocorrer um novo tsunami, um terremoto ou até mesmo a erupção de um dos 60 vulcões ativos no país, mas é também acreditar que o melhor para a segurança e o bem-estar de todos está realmente sendo feito”.

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