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O QUE MUDA NOS PROJETOS ARQUITETÔNICOS PÓS-PANDEMIA?

Atualizado: 15 de jul. de 2020



Em 2020, sem dúvida, nossa história mudou, nossos planos foram alterados ou adiados e, na construção civil e arquitetura não poderia ser diferente. Em um cenário de grandes transformações, ficam as perguntas: Neste momento o que é tendência na arquitetura? Quais serão as novidades no período pós-pandemia? E mais, existe um “novo normal” nos projetos?



CIDADES PÓS-COVID-19


Pessoas deverão deixar os apartamentos nos grandes centros e retornar para as extremidades da cidade, com mais contato com a natureza e casas maiores e mais confortáveis, assim descreve Rodrigo Andreoli, arquiteto e apresentador do programa A Reforma Que Eu Quero (Band TV), sobre a arquitetura pós-pandemia.


“As casas vão ter que atender as demandas dessas pessoas, como home offices, esquadrias antirruído e esquadrias térmicas, a arquitetura tomará outros caminhos para atender essas exigências”, comenta Andreoli. Segundo o arquiteto, os novos projetos terão uma área destinada ao home office, podendo, inclusive, influenciar no fluxograma da cidade, em relação à mobilidade urbana.


A popularização do trabalho em casa já vem ocorrendo há muito tempo. A evolução do computador pessoal e a necessidade de um espaço próprio para ele em casa, a oferta de internet rápida, empresas permitindo funcionários trabalharem em casa e mais recentemente, redes sociais e cursos à distância fomentam essa prática, complementa Thais Peres Arruda, arquiteta autônoma.



Thais observa que as pandemias são medidas pelo seu legado histórico. E como ainda estamos passando por uma, avaliar suas consequências pode ser prematuro. Porém, destaca que os edifícios devem ter boa qualidade arquitetônica, bem como obedecer ao planejamento urbano e seu cumprimento, em função não só do conforto, funcionamento e estética, mas também da salubridade.


“Um exemplo aparentemente simples de manutenção da saúde e salubridade em qualquer construção são as aberturas de ventilação e iluminação natural nas edificações. Elas eliminam mofo, vírus e bactérias”, diz a arquiteta. “Hoje, podemos fazer bom uso dos conhecimentos seculares da arquitetura aliados aos recursos tecnológicos à nossa disposição permitindo maiores aberturas, melhor controle de iluminação, calor e fluxo de ventos com bloqueios de raios nocivos à saúde. Dispomos de esquadrias com diversas aplicações e vidros com tecnologias que nos permitem adequação aos mais diversos projetos, desde os residenciais aos grandes edifícios públicos”, relaciona.


As inovações surgem pelas dificuldades enfrentadas e, com o tempo, são determinadas suas necessidades e aprimoramentos, explica Thais.


“NOVO NORMAL” NA ARQUITETURA



Por enquanto, a arquiteta não vê inovações decorrentes da pandemia que tragam mudanças permanentes para os projetos em geral. Em sua opinião, podemos especular ainda que para edificações de uso público uma maior popularização de elementos de automação não levará necessariamente a uma inovação.


DESENHANDO SAÍDAS



Para Thais, o período foi um pouco mais conturbado. “Com relação aos projetos que já estavam em andamento, tivemos dificuldades na comunicação com os fornecedores e prestadores de serviços. Em sua maioria, muitos reduziram ou suspenderam suas atividades inicialmente. Aos poucos, com todas as medidas necessárias de sanitização, retomamos as atividades”, conta.


INSPIRAÇÕES PARA ATRAVESSAR O MOMENTO




Fotos do antes e depois do retrofit mencionado por Andreoli/ Reprodução: A Reforma Que Eu Quero


A arquiteta também relembra a obra que mais a marcou. Foi a primeira como autônoma e recém-formada. “Realizei o projeto de um escritório completo, na capital paulista, desde o contrapiso até a decoração. Todo dia uma surpresa. Me abriu portas e oportunidades. Sou grata até hoje pelos parceiros que confiaram em meu trabalho”, diz.


DOENÇAS E AS EVOLUÇÕES ARQUITETÔNICAS


“No passado as recorrentes pandemias foram determinantes na contribuição para o avanço das obras de salubridade pública e o empenho dos sanitaristas na instrução da população”, relembra Thais.


Na Idade Média (476–1453), doenças como a tuberculose e a peste bubônica eram atribuídas aos miasmas, ou seja, aos ares e vapores emanados pela matéria orgânica em putrefação, teoria hoje totalmente descartada, sendo aceita a teoria microbiana. Muitas vezes a higiene ia além de dar outro destino aos resíduos indesejados para longe do centro, implicando, também, a remoção dos moradores indesejados pelas desapropriações de cortiços. Na época, as casas quase não possuíam entrada da luz do Sol, já que as ruas eram becos estreitos. Após a disseminação da peste bubônica, o espaço público mudou para que as residências pudessem receber melhor iluminação natural, segundo matéria publicada pela Casa Vogue.


A cidade de Nova Iorque deu início à mudança de pensamento quanto ao saneamento, sendo pioneira, na década de 1730, nas transformações urbanas para promover a saúde dos cidadãos. Assim, matadouros e curtumes tiveram que mudar para fora dos limites da cidade para combater os miasmas. Mas os negócios acabaram se restabelecendo nas proximidades do Lago Coletor que abastecia a cidade, provocando com isso a contaminação da água e contribuindo para a epidemia de cólera em 1833. Anos mais tarde, a arquitetura dos projetos sofreu algumas modificações, como a instalação de toaletes conectados à rede de esgoto e a criação de um aqueduto para abastecer a cidade com água limpa, de acordo com o site WRI Brasil.


Ainda conforme matéria do WRI Brasil, por conta dos surtos de tuberculose, cólera, varíola, malária, peste bubônica, poliomielite e febre amarela que avançavam nas zonas rurais do Rio de Janeiro, em 1903 foram realizadas reformas sanitárias e urbanas pelo prefeito Pereira Passos e pelo médico higienista Oswaldo Cruz. A gestão de Passos ficou marcada pela eliminação dos cortiços da região central da cidade. Assim, para grande parte dos antigos moradores da região central, que precisavam buscar trabalho no centro urbano, não restou alternativa senão construir assentamentos precários nas encostas dos morros da região.


Em 1918 a epidemia de gripe espanhola, que durou dois anos, chegou ao Rio de Janeiro, deixando 35 mil mortos no País, segundo o site Folha de Pernambuco. Os programas de habitação europeus do pós-guerra consolidaram ideais modernistas influenciados pela experiência da gripe e pela falta de recursos, levando à padronização das construções, a perspectiva funcional e a presença de espaços verdes, abertos, conforme o portal WRI Brasil.


As consequência da reforma sanitária no Rio de Janeiro-RJ atualmente/Reprodução: Flickr


Segundo a arquiteta autônoma Thais Peres Arruda, a arquitetura é uma área do conhecimento necessária à sociedade, já que vivemos em ambientes construídos, basta a divulgação clara e educativa de suas boas práticas para se promover uma cultura que resulte em melhorias para todos.


“Acreditando na mudança de pensamento da sociedade e sua relação com a organização das cidades torna-se possível a implantação dessas inovações adaptadas ao conhecimento adquirido para requalificar as edificações, espaços urbanos e os adensamentos”, conta a arquiteta.


Desse modo, as doenças acabam sendo um fator importante para moldar não somente nossos hábitos, mas as cidades, as ruas, os modelos arquitetônicos, a mobilidade, enfim a paisagem ao nosso redor.


Referências:



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