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FACHADA-CORTINA: EXUBERÂNCIA DO VIDRO E A COMPOSIÇÃO DO AMBIENTE AO REDOR

Atualizado: 21 de jul. de 2021

Os modelos do vidro tornam o elemento versátil, mas os cuidados com a escolha do material ideal para cada obra evitam transtornos


Por Stephanie Fazio


Edifício Barão de Iguape (SP)/ Reprodução: Wikipédia

O ano era 1959, quando o edifício paulistano Barão de Iguape inaugurava, no Brasil, o modelo fachada-cortina, uma nova fase arquitetônica na época. Ainda na capital paulista, três anos depois, seria erguida outra obra pioneira na área de fachadas envidraçadas: o edifício Wilton Paes de Almeida, que acabou desmoronando após um incêndio de grandes proporções em 2018.


“Para aquela época e também na atualidade, as fachadas envidraçadas imprimem um conceito de modernidade que as empresas buscam estar associadas. Por isso, essa tendência tem se perpetuado até agora nas edificações aqui no Brasil e no mundo”, diz Crescêncio Petrucci, engenheiro civil, consultor e diretor da Crescêncio Engenharia.


O edifício Wilton Paes de Almeida também foi pioneiro em usar sistema central de ar-condicionado. A obra era conhecida pelos moradores da região como “edifício de vidro". “Entre 1950 e 1960 houve um movimento muito forte de arquitetura moderna e corporativa nos Estados Unidos. Neste mesmo período, estávamos construindo um edifício todo de vidro em São Paulo”, relembra Bruno Moraes, arquiteto.



Mudanças no edifício Wilton Paes de Almeida (SP)/Reprodução: DCM e Veja


O arquiteto conta que estávamos abandonando conceitos que foram desenvolvidos nas décadas anteriores e que iam de encontro com o clima brasileiro, como o uso de ventilação cruzada, brise-soleil, proporção de cheios e vazios nas fachadas, entre outras soluções.


“Nesta época, um edifício todo de vidro não era coerente para nosso clima tropical. Importamos um conceito americano para nosso clima e não deu muito certo. Logo depois, tivemos uma onda de usar vidro fumês e verdes para amenizar esta ‘estufa’ que criamos ao utilizar uma fachada de vidro”, explica Moraes. Para ele, a estética do modelo estadunidense foi muito pensada durante o movimento Moderno, mas a questão do clima tropical foi deixada de lado. A consequência foi a criação de novos edifícios com sistemas mais potentes de climatização, que geravam um gasto enorme com energia elétrica.


“Hoje em dia, já podemos utilizar este tipo de solução no nosso clima tropical, por conta dos vidros inteligentes e películas que bloqueiam a insolação, impedindo o aquecimento dos edifícios por dentro”, comenta Moraes.


COMPOSIÇÃO DO AMBIENTE AO REDOR


As fachadas de vidro são multifuncionais em uma edificação. “Muitos dizem que ela funciona como a pele do nosso corpo, realizando uma interface entre o ambiente interno e o externo e com muita versatilidade”, comenta Nilson Viana, coordenador da consultoria técnica da Cebrace. “O vidro permite a integração entre espaços, uma obra mais rápida e sem desperdícios, além de levar conforto, sustentabilidade e economia de energia”, acrescenta.


Obra realizada com o vidro Cebrace Cool Lite Linha BR/Reprodução: Cebrace

Segundo o executivo, na Cebrace, o vidro de proteção solar é fabricado com a mais alta tecnologia, resultando em itens eficientes no sentido de garantir o maior conforto para o usuário. “Itens como transmissão luminosa, reflexão externa e interna, absorção e fator solar são estudados minuciosamente a fim de se obter o melhor produto, aliando beleza e eficiência”, diz o coordenador.


Na visão de Viana, além dos benefícios que o vidro oferece ao ambiente interno, o material também impacta no externo, oferecendo várias possibilidades ao design. Ele explica que, visualmente, a sua interferência no entorno vai depender muito do projeto e dos desejos do arquiteto.


“A segurança e o baixo custo com manutenção também são muito explorados com a solução de fachada-cortina envidraçada”, observa Petrucci. O consultor relata que as grandes áreas envidraçadas proporcionam uma integração do interior da edificação com a cidade. Ele comenta que o desejo das pessoas, seja no trabalho ou na residência, em observar a paisagem e acompanhar a vida dinâmica das cidades, é muito forte e valorizado.


O vidro reflexivo ou refletivo, se usado corretamente, irá refletir os raios solares sem prejudicar o entorno da edificação e, ao mesmo tempo, não deixa que esses raios irradiem diretamente para dentro da obra, segundo o arquiteto Moraes.


“Em algumas exceções, o reflexo pode ser um problema, mas em todos os casos em que isso ocorre podemos afirmar que houve uma má especificação do material. Existe uma gama enorme de tipos de vidros com aspecto refletivo, semi-refletivo e neutro (mais transparente) e todos eles são fabricados com tecnologia de ponta para ter alto desempenho, sem abrir mão do design”, diz Viana.


Moraes relembra que já houve um caso em Londres onde a incidência dos raios solares em um edifício com fachada de vidro reflexivo chegou a atingir e derreter um dos componentes de um carro estacionado nas proximidades.


Prédio londrino conhecido como wakie talkie emitiu reflexo que derreteu parte de um carro em 2016/Reprodução: IstoÉ

“Em São Paulo já tivemos algumas polêmicas referentes a um edifício que fica na Avenida Brigadeiro Faria Lima, que tem uma fachada de vidro reflexivo colorido. Dependendo da inclinação dos raios solares, o material reflete as cores para as edificações em volta, ‘tingindo’ todas as casas do entorno”, conta o arquiteto.


Quando as escolhas de tecnologias e materiais não ocorrem de forma harmoniosa, pode haver prejuízos para o ambiente interno e externo. Assim, o uso de vidros extremamente reflexivos, podem ocasionar microrregiões de calor nas proximidades da edificação e provocar desconforto para os transeuntes e obras próximas, além do reflexo de luz que pode atrapalhar o trânsito e a circulação das pessoas, segundo Petrucci.


O consultor alerta que, nesses casos, é sempre importante escolher vidros de alto desempenho e com baixa reflexão e, quando possível, incorporar ao projeto elementos de sombreamento como brises, telas, vidros serigrafados ou outros métodos. “Isso irá proporcionar maior conforto interno e deve reduzir significativamente os problemas de zonas de calor nos grandes centros urbanos”, relata.


Outro aspecto levantado por Petrucci é o uso de grandes panos de vidro plano. Essa condição, quando não evitada, pode proporcionar a amplificação de sons através da reverberação do ruído urbano, ocasionando enormes prejuízos para o conforto dos transeuntes e das regiões próximas a esse tipo de edificação. “É importante que a fachada possua formas geométricas distintas e irregulares ou elementos arquitetônicos externos que permitam a ruptura das ondas sonoras, proporcionando redução do ruído urbano nas grandes metrópoles”, diz.


Fachada com elementos não planos/Divulgação

VANTAGENS DO VIDRO NO MOMENTO DA CONSTRUÇÃO


A aplicação do vidro nas fachadas proporciona um elevado grau de industrialização, permitindo maior qualidade e agilidade na instalação, reduzindo custos e prazo de obra, quando comparados com métodos tradicionais de vedação com alvenaria e revestimento de argamassa, descreve Petrucci.


O arquiteto Moraes conta que já visitou vários edifícios envidraçados, tanto em países com clima tropical quanto em locais mais frios, sendo que no interior do prédio não foi necessário ter um sistema de climatização para refrigerar ou aquecer. “Em locais com muita neve, observei fachadas duplas de vidro que seguram a temperatura externa, para não esfriar o ar interno. Assim como em países com clima tropical, você deve utilizar vidro com eficiência térmica, películas que bloqueiam mais de 95% dos raios ultravioleta (UV) ou até mesmo vidros inteligentes, que funcionam como lentes de óculos, que escurecem quando expostas ao sol”, explica.


Exemplo de fachada com brise/Divulgação

Uma fachada de vidro duplo, por formar uma camada de ar entre os vidros, é muito eficiente para conter a temperatura externa, relata Moraes. Para ele, se a fachada puder ter circulação de ar, sua eficiência é ainda melhor, funcionando como um efeito chaminé. “Entrando ar por baixo e exaustando por cima em outra abertura. Assim, o vidro que fica na parte interna, quase não tem contato com a diferença de temperatura externa, é uma ótima solução que geralmente vejo em climas frios”, conta.


O coordenador Viana relembra que cada projeto é único e suas necessidades exigem um estudo sobre o vidro mais indicado para solucionar todas as questões específicas daquele contexto. Para chegar ao vidro correto existe um longo caminho de análise não só da própria edificação, mas também de todo o entorno, principalmente nas obras de grande porte, onde os esforços sobre o vidro tendem a ser maiores.

“Para fachadas, o vidro mais indicado é sempre o de proteção solar, pois ele é fabricado para levar performance, design e eficiência a esse tipo de aplicação”, define o coordenador.


Na Cebrace, a família de vidros Cool Lite, fabricados para edifícios comerciais, reduz em até 80% a entrada de calor nos ambientes. Já os vidros Habitat by Cebrace, foram desenvolvidos para necessidades específicas dos projetos residenciais, reduzindo a entrada de calor em até 70%, conforme Viana.


Exemplo de obra com aplicação dos vidros Cebrace Cool Lite Linha K/Reprodução: Cebrace

O aspecto mais reflexivo ou mais neutro e o tipo de vidro dentro das linhas, assim como as formas de processamento que devem ser usadas, precisam ser discutidos junto com o arquiteto, com a consultoria de fachadas e com o apoio em normas de aplicação para garantir a segurança, argumenta o coordenador.


“Todos esses vidros colaboram para a obtenção de certificações sustentáveis, já que favorecem a eficiência energética e o conforto. Ao serem usados na versão laminada, tanto o Cool Lite quanto o Habitat protegem em quase 100% os ambientes dos malefícios dos raios ultravioleta (UV), como o desbotamento dos materiais”, informa o executivo.


TIPOS DE FACHADAS ENVIDRAÇADAS


As fachadas-cortina podem utilizar várias técnicas construtivas, sendo denominadas de forma distinta. Entre as opções de instalação temos os sistemas: structural glazing, stick, unitizado, grid, spider e pele de vidro. Cada sistema tem suas vantagens e especificidades.


Divulgação: Crescêncio Petrucci/Arquivo pessoal

Bruno Moraes, arquiteto, explica que o sistema structural glazing utiliza uma tecnologia em que o vidro é fixado sobre um caixilho no formato de “quadros de alumínio” com um material adesivo resistente, o que permite uma fachada mais clean, sem a demarcação tradicional do caixilho, deixando o perfil oculto. Ele cita como benefícios de sistema a estanqueidade, a elasticidade e a resistência à dilatação.


Modelo de fachada structural glazing/Reprodução: Lamattina Digital News

De acordo com o consultor Crescêncio Petrucci, no sistema stick a montagem da fachada-cortina é feita em partes, considerando primeiro a instalação da “malha”, que consiste nas travessas e colunas de alumínio. “Essas colunas metálicas verticais passam na frente da laje da edificação e delimitam os módulos de vidro, que são instalados depois”, acrescenta Moraes.


Em seguida, os quadros com vidro ou outro material de fechamento são instalados na estrutura e, por fim, são aplicados os elementos de vedação e os arremates internos. “Exceto pelos arremates internos, todas essas etapas são executadas pelo lado externo da edificação, através de balancins ou equipamentos de elevação. Como há muitas etapas de montagem, esse sistema apresenta maior tempo de execução quando comparado com o unitizado, por exemplo”, detalha Petrucci.


Sistema de fachada stick/Divulgação

Já no modelo unitizado, a fachada é dividida em módulos. Isso é possível porque as colunas e, pelo menos, uma travessa por pavimento são repartidas entre dois perfis que se encaixam. Dessa forma, a fachada é composta por painéis que são enviados já montados para a obra, com todos os seus elementos de vedação e fechamento, como vidro ou outros materiais, conforme o consultor.


“Na obra, o processo de instalação da fachada é feito encaixando cada painel e formando uma barreira de vedação. Como a maior parte do processo de montagem é feita na indústria, a qualidade de execução é melhor e a velocidade de instalação na obra é maior, se comparado com o modelo stick”, informa Petrucci.


Modelo de fachada unitizada/Reprodução: AEC Web

Já o sistema grid é mais encontrado em edifícios menores ou térreos. Essa solução tem um bom isolamento acústico e pode ser utilizada em diversos tipos de vidros, segundo o arquiteto. Petrucci detalha que, neste sistema, os vidros são fixados mecanicamente por um conjunto de perfis denominado tampa e contratampa. O destaque é que nesta solução existe uma marcação de alumínio pelo lado externo, que é intencional.


“A medida mais comum para essa marcação é de 50mm de largura, mas é possível encontrar no mercado sistemas com larguras diferentes, como 40, 80 e até 100mm. Hoje em dia, não é o modelo mais utilizado por aqui, mas tem grande potencial”, completa o consultor.


Sistema de fachada grid/ Reprodução: Sev Exclusivv

No modelo spider os vidros são fixados de forma agrafada, ou seja, através de furo no material e parafusos especiais. Esse tipo de esquadria é muito utilizada para fechamento de pequenas áreas como lobby de empreendimentos comerciais e lojas, por proporcionar muita transparência, “o que é desejado nos edifícios corporativos para torná-los mais convidativos e nas lojas para deixar os produtos mais à vista do público, como em uma vitrine”, menciona o consultor.


Esse tipo de sistema valoriza a estrutura de fixação dos vidros e chama a atenção pela estética. “Tem uma peça que parece uma aranha, por isso o nome do sistema. Essa estrutura pode ser em aço carbono, inox ou alumínio”, acrescenta Moraes. Contudo, Petrucci relembra que essa solução não é muito comum em fachadas-cortina, devido ao elevado valor dos vidros e da técnica de fixação.


Modelo de fachada spider/Reprodução: Pinterest

O consultor esclarece que o sistema pele de vidro foi um dos primeiros utilizados em larga escala no início da década de 1980. “Naquela época, ele foi inovador porque os perfis principais da estrutura da fachada-cortina, as colunas e as travessas ficavam voltadas para o lado interno da edificação, e com isso, a fachada ficava com aspecto plano pelo lado externo, dando uma impressão de ‘pele lisa’”, explica.


Nesse sistema, o vidro é encaixado em um perfil tipo “J” e a fachada fica com uma sutil moldura de alumínio pelo lado externo, em geral essa moldura possui entre 12 e 20mm de largura e ocorre em cada quadro de vidro, comenta Petrucci.


Sistema de fachada pele de vidro/Divulgação

A ESCOLHA DO VIDRO CORRETO


A seleção do vidro para edifícios com fachada-cortina deve sempre ser conduzida com base em aspectos técnicos, estéticos e financeiros, de acordo com Petrucci.


Em relação às questões técnicas, o consultor afirma que recebe muitas demandas de requisitos de desempenho que devem ser atendidos, como da equipe de ar-condicionado, acústica, certificações de sustentabilidade, conforto, ações de vento, entre outras.


“Como essas solicitações são objetivas, a seleção do vidro é um pouco mais fácil, por termos que propor produtos que atendam a esses requisitos”, menciona Petrucci. Ele também diz que muitas vezes essa fase se torna muito restritiva e a empresa tem que atuar com as outras disciplinas para flexibilizar um pouco um ou outro parâmetro.


O consultor acrescenta que é sempre importante que essa escolha seja feita através de mock-up (modelo em escala ou de tamanho real de um projeto) e, de preferência, no local onde o produto será aplicado. “E por fim, mas não menos importante, as opções de vidro devem estar aderidas ao custo do empreendimento”.

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