*Por Alaércio Nicoletti, professor da Escola de Engenharia (EE) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e Gerente Corporativo de Sustentabilidade e Melhoria Contínua do Grupo Petrópolis
Presente em portas, janelas ou guarda-corpos, o vidro é uma matéria-prima muito aplicada aos projetos da construção civil, mas também está presente em embalagens nos mais variados produtos. Sua utilização se dá na indústria de alimentos, bebidas, perfumes, produtos químicos, entre tantas outras áreas.
A Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro) destaca algumas vantagens das embalagens de vidro: (1) é um material 100% reciclável e, portanto, sustentável; (2) não reage quimicamente com o produto armazenado por ser inerte, mantendo as características do produto; (3) impede a ação de qualquer agente externo por ser impermeável, conservando o seu conteúdo por mais tempo; (4) permite os mais variados designs; (5) trata-se de um mau condutor térmico, o que preserva melhor os alimentos que dependem da temperatura, como o palmito, a azeitona e as bebidas alcoólicas, por exemplo.
Junto com todas essas vantagens, soma-se o fato de que 1kg de cacos de vidro vira, exatamente, 1kg de nova embalagem, com 100% de aproveitamento. Quando é relançado no processo produtivo, melhora a eficácia dos fornos, requerendo menos temperatura e, consequentemente, energia, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Esse último ponto ressalta a importância do retorno das embalagens descartáveis de vidro para ciclos produtivos. Contudo, se a embalagem não retorna, obriga os fabricantes do produto a recorrerem a importações de cacos de vidro até da Bélgica para garantir a produção de suas instalações fabris.
A embalagem de vidro é mais pesada em relação às de outros materiais. Quando quebrado, o vidro é cortante, apresentando alto potencial de machucar quem o manuseia. Além disso, o material é barato para o catador, sendo que 1kg de vidro apresenta um retorno financeiro que é um percentual da mesma massa em alumínio, por exemplo.
Assim, faz-se necessária a mobilização da indústria, das instituições, da academia e da sociedade para aumentar a captação desse material que, apesar de representar somente 2,7% do total de resíduos sólidos urbanos no Brasil, corresponde a uma produção total de 980 mil toneladas por ano.
Nesse sentido, o Grupo Petrópolis e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)/Confederação Nacional da Indústria (CNI) criaram a iniciativa da Circularidade do Vidro, programa que une empresas, instituições de pesquisa e desenvolvimento e Universidades do país, tendo como principal propósito a recuperação e reutilização das embalagens de vidro no território nacional. O projeto nasceu de um sonho de eliminar tais embalagens dos aterros sanitários e lixões, que, infelizmente, ainda são da ordem de 3 mil no país.
A chamada do projeto teve o retorno de 22 propostas, o que totaliza R$ 50 milhões em investimentos. As iniciativas envolveram organizações de todo o país em parceria com as instituições Senai das localidades, contemplando também universidades e outros centros de excelência. Das propostas, foram selecionadas 13 que atenderam aos requisitos de aumentar a captação do vidro, sua retornabilidade e soluções para áreas remotas, distantes das fábricas de embalagens.
Além disso, o desafio envolve não aumentar a emissão de CO2 na atmosfera. Para a apresentação, foram convidados diversos especialistas do mercado, além de instituições que poderiam ter interesse na execução do projeto como fabricantes e recicladores.
Em um encontro envolvendo 20 instituições, além dos representantes nacionais e regionais da CNI e do Senai, as 13 propostas foram divididas em três grupos, sendo: (1) soluções inovadoras em novos produtos a partir do vidro; (2) aumento na captação do vidro a partir de plataformas, equipamentos e serviços; (3) educação e treinamento para aumento da conscientização sobre a reciclagem do vidro.
Com o amadurecimento das frentes de projeto e a captação de recursos junto às empresas e instituições com fomentos governamentais, espera-se seguir nas três frentes e proporcionar ao vidro seu real valor em sustentabilidade, contribuindo ambiental e socialmente, além de proporcionar o desenvolvimento da indústria brasileira.
Fonte: Assessoria de Imprensa Instituto Presbiteriano Mackenzie
Comments