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A ESCOLHA DO VIDRO E O IMPACTO NA INSTALAÇÃO DO AR-CONDICIONADO

*Por Fernando Simon Westphal, consultor técnico da Abividro, engenheiro civil, professor e pesquisador no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sócio da ENE Consultores e palestrante em eventos do setor


O ar-condicionado funciona retirando ou adicionando calor do ambiente para alcançar a temperatura selecionada no controle remoto. O sistema vai operar na função “resfriar” para retirar calor do ar interno; e na função “aquecer” para adicionar calor ao ar interno – isso no caso de aparelhos com ciclo reverso. O tamanho do equipamento, ou sua capacidade, comercialmente definida em Btu/h, depende da carga térmica máxima que o ambiente recebe na pior situação, seja num horário de extremo calor ou frio.


O tipo de vidro de uma janela tem interferência direta no dimensionamento e no consumo de energia do ar-condicionado ao longo do tempo. Evidentemente, quanto maior a área de janela, maior o impacto no consumo, a depender também da orientação solar e padrão de uso da edificação. Geralmente, os ambientes possuem outras cargas internas (equipamentos, iluminação e pessoas), embora a participação das janelas seja mais importante no cômputo geral. Vamos entender melhor essa influência com algumas contas rápidas.


Vamos adotar uma sala de escritório como exemplo e focar na função de resfriamento, que é dominante em boa parte do país e que sofre maior influência do tipo de vidro aplicado nas esquadrias.


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Suponhamos que nossa sala tenha 4 m de largura por 6 m de comprimento, totalizando 24 m² de área. Vamos considerar ainda que uma das paredes menores está voltada para o exterior e que esta possui uma janela em toda sua extensão, com 4 m de largura, e 1,2 m de altura. A nossa sala possui um pé-direito de 2,8 m (altura medida entre o piso e forro).


A sala é ocupada por no máximo 4 pessoas, com um notebook e mais uma tela auxiliar cada uma. Possui também 4 luminárias de 60 W cada. A parede externa é de alvenaria e no cálculo inicial vamos considerar a janela com um vidro incolor comum de 6 mm – vale lembrar que sendo monolítico ou laminado, o ganho de calor solar é o mesmo. Neste exercício, vou considerar a sala com sua parede externa voltada para a orientação oeste, na cidade de Florianópolis, e na condição crítica de verão, com temperatura do ar externo a 32°C e insolação de 700 W/m² sobre a fachada. Vamos desconsiderar o ganho de calor das demais paredes, piso e teto, imaginando a sala em um pavimento tipo de um edifício, com salas vizinhas também climatizadas.


Resumindo, as fontes de ganhos de calor totalizam:


a)    Equipamentos: 4 x 80 W (potência de cada notebook mais uma tela de 23”) = 320 W


b)    Iluminação: 4 luminárias x 60 W cada = 240 W


c)    Pessoas: 4 x 120 W (quantidade de calor gerada por uma pessoa em atividade de

escritório) = 480 W


d)    Infiltração de ar: 380 W (considerando taxa média de 0,6 trocas por hora)


e)    Parede externa: 260 W (considerando parede de alvenaria com cor clara)


f)     Janela: 2.800 W (vidro incolor com fator solar = 0,82)


g)    Total = 4.480 W (ou 15.277 Btu/h)


A carga total nessa condição de pico chega a 4.480 W, o que equivale a 15.277 Btu/h (1 Btu/h = 3,41 W). Dessa forma, verificamos que precisaríamos de um split de 18.000 Btu/h, que seria a capacidade comercial imediatamente superior ao valor calculado.


Caso fizéssemos a substituição do vidro incolor por um vidro de controle solar com fator solar de 0,50 (50% de ganho de calor solar contra 82% do vidro incolor) o ganho de calor pela janela seria reduzido para 1.700 W e a carga total da sala na condição de pico ficaria em 3.380 W, ou 11.526 Btu/h. Nesse cenário já seria praticamente viável reduzir o split para um equipamento de 12.000 Btu/h, embora ainda estivesse operando muito próximo do limite.


Mas podemos ir além! Melhorando a especificação do vidro para uma composição insulada (maior isolamento térmico) e com vidro externo com fator solar de 0,25 (menor ganho de calor solar) o ganho de calor através da janela seria reduzido a 900 W. Nessa condição, a carga térmica total da sala seria de 2.580 W (= 8.798 Btu/h), sugerindo um equipamento de 9.000 Btu/h. Agora, poderíamos ficar no split de 12.000 Btu/h com folga. Nossa economia na instalação do split da situação inicial para a final seria algo em torno de R$ 1.000. Considerando que a nossa janela possui 4,8 m² de vidro, temos uma economia equivalente a R$ 208/m² de vidro.


Concluindo, se o vidro mais eficiente custar 200 reais a mais por metro quadrado do que o vidro incolor inicialmente considerado na instalação, esse upgrade se paga com a economia na compra do split necessário. Caso o vidro custe mais caro do que isso, ainda existe a amortização do investimento gerada pela economia de energia em climatização. Certamente, o investimento em um vidro melhor vai se pagar em pouco menos de 2 anos. E o benefício será proporcionado por toda a vida útil da edificação, incluindo não apenas o menor custo com energia, mas também a melhoria no conforto térmico.


Ganhos de calor (W)

Vidro incolor

FS 0,82

Vidro de controle solar

FS 0,50

Vidro controle solar insulado

FS 0,25

Equipamentos

320

320

320

Pessoas

480

480

480

Iluminação

240

240

240

Infiltração

380

380

380

Paredes

260

260

260

Janelas

2.800

1.700

900





Total (W)

4.480

3.380

2.580

Total (Btu/h)

15.277

11.526

8.798

Split (Btu/h)

18.000

12.000

9.000

 *Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.

 
 
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