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RETROFIT: A TENDÊNCIA SOB O OLHAR DE UMA ESPECIALISTA EM PLANEJAMENTO URBANO

Alejandra Maria Devecchi, colaboradora da Ramboll, comenta sobre o tema e algumas questões de planejamento urbano


O retrofit é uma tendência europeia na arquitetura e design das obras. O objetivo da solução é revitalizar e atualizar um projeto, porém, sem abandonar as suas características essenciais.

“Os projetos de reconversão (intervenção no espaço urbano visando ao reaproveitamento de acervo arquitetônico protegido, recuperando-o e dando-lhe nova utilização) passaram a ocorrer em países europeus e até nos Estados Unidos, cujas legislações não permitiam que o acervo arquitetônico pudesse ser substituído. Sem possibilidade de demolição e criação de novas obras, a opção que restava era restaurar o existente”, segundo informações do site Hometeka. Com isso, surge o retrofit, que além possibilitar a modernização de uma construção, garante a preservação do patrimônio histórico do local.

Para saber mais sobre a tendência, nossa equipe entrevistou Alejandra Maria Devecchi, gerente de planejamento urbano da Ramboll, empresa global de engenharia, arquitetura e consultoria, fundada na Dinamarca.

Os especialistas da Ramboll criam soluções sustentáveis ​​em edifícios, arquitetura, paisagem e urbanismo, realizam consultoria em energia e gestão, entre outras áreas. Acompanhe a entrevista.



Revista Contramarco - Quais são os reflexos econômicos das reformas nesse período de pandemia?


Alejandra - Não tenho dados concretos, mas acredito que há um acentuado mercado de reformas, intensificado pela vivência extrema das moradias provocada pela pandemia. As famílias tiveram oportunidade de pôr à prova suas residências e verificar se a “máquina de morar”, como Le Cobursier chamava a casa, funciona.


Revista Contramarco - Quais são as vantagens do processo de retrofit ou de reforma?


Alejandra - A existência de numerosos edifícios verticais totalmente vazios no centro da cidade de São Paulo evidencia um paradoxo da produção do espaço urbano: a obsolescência espacial da cidade industrial.


Este fenômeno, quando inserido numa aglomeração, com aproximadamente 50% da população morando na denominada “cidade informal”, exige a formulação de uma política urbana audaciosa. Sem dúvida, onde não há mais área para expansão urbana e o déficit habitacional supera o milhão de unidades habitacionais, pensar a utilização dessas edificações parece uma ideia sensata.


Principalmente, quando sua reforma e adequação podem ancorar um processo de reabilitação da área central da cidade e a industrialização de um setor da construção civil. Os edifícios da área central de São Paulo apresentam um significativo potencial para a reconversão habitacional.


Analisando exclusivamente a variável do potencial construído, pode-se verificar que a maioria apresenta área construída superior a cinco vezes a área do terreno, transformando qualquer empreendimento de reforma ou reabilitação num investimento muito produtivo, já que a legislação vigente não permite exceder um coeficiente de aproveitamento superior a quatro. Isso significa poder produzir habitação com frações ideais de terreno inferiores a 40 m² por unidade, possibilitando trabalhar com terrenos valorizados. Outra vantagem da reforma é o tempo mais curto de obra, assim como também o processo de aprovação mais simples.


Vários edifícios já foram convertidos para o uso habitacional nos últimos dez anos na cidade de São Paulo. O poder público tem se destacado como principal produtor de habitação por meio da reforma. De maneira geral, esses empreendimentos têm perpetuado formas de intervenção consagradas para construções novas.


Os resultados têm sido reformas caras, com soluções de compartimentação espacial, que comprometem a qualidade espacial do produto, assim como prejudicam a integridade da obra arquitetônica inicial. Possíveis respostas encontram-se no processo incipiente de produção, no qual o objeto de intervenção é um desconhecido. Falta de controle sobre as condições estruturais originais, partido de instalações inadequadas, exigindo abertura de rasgos na laje, com grandes extensões de tubulação, essas são algumas das causas aparentes.


Hoje, sabemos que reformar não é construir. A análise dos empreendimentos de reforma existentes na cidade mostra uma inadequação dos métodos de construção civil utilizados.


Revista Contramarco – Se possível, comente a importância de se ter um plano de retrofit, citando como exemplo o acesso à moradia na região central da capital paulista.


Alejandra – A produção de imóveis residenciais a partir da reforma e reconversão de edifícios altos é uma atividade recente na cidade de São Paulo e no país. A iniciativa privada tem resistido a esse tipo de empreendimento, principalmente por tratar-se de um negócio que exige um primeiro investimento numa edificação obsoleta e com pouca liquidez, com um mercado desconhecido.


Sem dúvida, a atividade necessita ser organizada. O desenho de uma política de compactação da cidade pode estimular a produção habitacional por meio de reforma ou reconversão.


Reprodução: Ramboll

Veja mais informações na edição 150 (jul/ago) da Revista Contramarco e visite (ramboll.com/).

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