Arquitetos comentam sobre a vedação, utilização de vidros laminados e dão dicas práticas para amenizar o frio
*Por Stephanie Fazio
Com a chegada da temporada de frio, cresce a procura por produtos que mantenham o lar aquecido e longe dos ventos. As portas e janelas estão entre os sistemas responsáveis pelo conforto térmico dos ambientes, permitindo a entrada de luz e calor pela manhã e vedando o ambiente contra o ar frio.
“No Brasil, onde o isolamento térmico nas construções não é comum, as esquadrias desempenham um papel crucial na preservação da temperatura interna durante o inverno, funcionando como barreiras contra o vento e a troca de calor”, comenta Raphael Wittmann, arquiteto do escritório Rawi Arquitetura.
De acordo com a Dra. Loyde Vieira de Abreu-Harbich, arquiteta e urbanista, professora e pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, as esquadrias também exercem uma múltipla função no controle do desempenho luminoso e acústico, mas a opção de uso pode interferir no conforto do usuário.
“Por exemplo, ao abrir uma janela para ventilar o ambiente, pode haver mais passagem de luz, perda da privacidade, aumento do ruído, entrada água, poeira e até insetos indesejáveis. Essa opção de autonomia ao usuário permite a eficiência energética e a salubridade do ambiente”, explica a arquiteta.
No entanto, há algumas esquadrias que, mesmo fechadas, não exercem a função de vedação completa, fazendo com que o ambiente se resfrie rapidamente principalmente durante o inverno. Para auxiliar no desempenho da vedação, há opções como: veda porta adesivo, veda porta automático, veda frestas escova e veda frestas adesivo.
“A qualidade da esquadria é fundamental para preservar a temperatura interna do ambiente durante o inverno. Quando se trata da preservação da temperatura, deve-se observar o sistema da caixilharia, o material utilizado no caixilho, tipo de vidro e sistemas de acionamento. O sistema da caixilharia deve ser eficiente, de modo a vedar completamente o contato entre o ambiente interno e externo, independente do sistema de acionamento”, diz Loyde.
Um estudo realizado sobre os sistemas de fechamento de esquadrias em módulos de habitação temporária em diferentes cidades, desenvolvido por Gabrielle de Souza Domingues, orientada pela arquiteta, observou a influência no Conforto Térmico no Interior de Módulos de Habitação Temporária. Neste estudo, a envoltória era de OBS e o sistema de esquadrias considerou três situações: vedadas com plástico bolha, abertas e com venezianas para três cidades (Rio Branco, São Paulo e Porto Alegre).
Na cidade onde o inverno é pouco expressivo, como Rio Branco, não há necessidade de preocupação com a vedação das janelas, pois a janela aberta e sombreada proporcionou 90% de horas confortáveis noturnas. Já nas cidades de São Paulo e Rio Grande do Sul, as janelas vedadas oferecem, respectivamente, 97% e 95% de horas confortáveis noturnas.
Também se concluiu que as janelas fechadas e vedadas à noite proporcionaram cerca de 7% de conforto a mais do que as janelas abertas. Isto significa que em cidades onde o inverno tem temperaturas noturnas abaixo de 18°C, a vedação das janelas é um excelente recurso para trazer mais conforto durante o inverno em cidades onde a estação provoca um desconforto. Salienta-se que, na maioria dos edifícios brasileiros, não existem sistemas de calefação, por causa das condições climáticas e para manter a eficiência energética.
Loyde lembra que, com a vigência da norma de Desempenho das Edificações (NBR 15575 — Edificações Habitacionais), a partir de 2013, as empresas tiveram que se adaptar, principalmente às questões termoacústicas e estanqueidade da água. “Vedando o ruído e água, veda-se também o ar externo. Hoje, quando a esquadria não é certificada ou laudada, é comum ter um sistema de caixilharia incapaz de vedar completamente o ar da parte interna com a externa”, afirma.
O PVC, alumínio ou metal e madeira são os materiais mais utilizados nos sistemas. Ela informa que a madeira é um isolante térmico e as esquadrias feitas com este material normalmente têm uma boa vedação quando bem executadas.
VIDRO INSULADO
Além das vedações dos caixilhos, o tipo de vidro também deve ser considerado. “O tipo e a espessura do vidro também influenciam no isolamento, com vidros duplos ou mais espessos oferecendo melhor desempenho”, conforme Wittmann.
Na opinião do arquiteto, o vidro insulado, ou vidro duplo, é altamente recomendado para regiões frias, como a Região Sul do Brasil, devido ao desempenho térmico e acústico. “Ele cria uma camada de ar entre os vidros, formando um bolsão de ar que impede a troca de temperatura. Mesmo em regiões mais amenas, o vidro insulado pode ser utilizado em áreas de maior altitude ou para melhorar o isolamento acústico em projetos específicos, como divisórias de escritórios”, aponta.
Existem vidros que permitem a entrada de luz e calor, aquecendo muito o ambiente interno. Dependendo da orientação, é também interessante sombrear esse vidro para que os espaços não aqueçam muito no verão, mas permita o acesso ao sol durante o inverno, conforme a professora.
“Não basta escolher o vidro com o melhor desempenho térmico e iluminação, é importante que o tipo do vidro esteja balanceado com a envoltória do edifício, assim haverá uma garantia que o vidro escolhido não irá causar um efeito estufa ou irá permitir que o calor saia do ambiente rapidamente durante a noite”, orienta.
O vidro insulado é conhecido por seu bom desempenho termo-acústico, transmitindo luz e calor para o ambiente interno, retendo o calor durante o dia. Ela lembra que, dependendo do tipo do vidro, o desempenho térmico pode ser diferente. “Para isso, na hora de especificar um vidro insulado, deve-se averiguar o fator solar, sendo a quantidade de energia solar que o vidro permite passar, a transmitância térmica, que à capacidade do vidro conduzir calor e emissividade, sendo a capacidade do vidro emitir calor devido à radiação”, explica. Já o desempenho acústico depende mais da espessura do produto e da largura da câmara de ar entre os vidros.
VEDA PORTA
A vedação eficiente entre o caixilho e o batente é fundamental para impedir a entrada de ar frio. Eles podem auxiliar mais nas questões acústicas do que térmicas, segundo Loyde. O sistema porta adesivo é instalado na parte interna das portas de madeira, PVC ou metal e é acionado quando a porta é fechada, pressionando a borracha contra o chão, mesmo se o piso for irregular. “Muito eficiente acusticamente e contra as infiltrações de água, retenção de fumaça e contra a entrada de poeira e insetos, o modelo adesivo é fácil de instalar na base da porta e pode ser em borracha ou em uma espécie de vassoura.
Já o veda fresta escova ou adesivo é um isolante acústico, que também age contra o vento, água, poeira e insetos, sendo ainda, um amortecedor.
De acordo com o arquiteto, existem dois sistemas: a escovinha e o silicone, ambos são de encaixe. “Os de adesivos não são recomendados, pois costumam se soltar com o tempo. O sistema de encaixe é mais interessante, porque, quando ele solta, você não depende da cola para fixá-lo, basta encaixá-lo, o que é mais prático”. Ele explica que a vedação pode ser entre vidro com vidro ou vidro com caixilho, sendo utilizada principalmente no encontro de vidro com vidro. Como exemplo, Wittmann cita que as varandas de apartamentos, onde há um caixilho na parte superior, inferior e nas laterais, encontra-se vidro com vidro. “Nesses casos, utiliza-se um veda frestas”.
COMO O CONSUMIDOR FINAL PODE IDENTIFICAR A NECESSIDADE DE CALAFETAR O CAIXILHO?
A calafetagem das esquadrias promove a durabilidade, segurança, estética e funcionalidade do edifício, caixilhos de materiais como PVC, alumínio e madeira, quando bem vedados, oferecem um bom isolamento, conforme o arquiteto. Durante a instalação das esquadrias, é importante que qualquer fresta seja calafetada com materiais flexíveis à base de silicone ou polímeros, ou látex, segundo a arquiteta.
Existem alguns produtos à base de borracha de silicone aplicados por uma bisnaga nas frestas entre a esquadria e a parede. Ela afirma que pode-se utilizar esse produto tanto na parte interna como na externa e, ainda, pode ser utilizado em metais e vidro. Também menciona os selantes acrílicos à base de água. “Recomenda-se a utilização desse produto em aplicações internas e externas às esquadrias e sob materiais porosos, como a alvenaria”, orienta.
Outra opção citada para vedar as frestas é a fita auto adesiva. “Para se calafetar uma janela, deve-se cortar quatro peças nas dimensões da janela ou do batente. Cole cada peça ao longo do batente da janela e pressione usando os dedos”, explica.
De acordo com Loyde, essas formas de calafetagem, além de aumentarem a vida útil do edifício, melhoram as condições acústicas e, principalmente, térmicas, garantindo que o vento não resfrie muito o ambiente. Por outro lado, essas soluções também podem ser utilizadas em ambientes climatizados.
Produtos como vedas de silicone e sistemas de encaixe são mais duráveis e eficientes, na opinião de Wittmann. “O consumidor final pode identificar a necessidade de calafetar os caixilhos verificando a presença de correntes de ar ou ruídos externos. Vedação inadequada pode ser detectada por meio de inspeções visuais e testes simples, como a colocação de uma vela acesa perto dos caixilhos para observar os movimentos da chama”.
“Além disso, durante uma onda de frio, é possível proteger as casas à noite, utilizando um sistema prático e barato. Pode-se lacrar todas as janelas com plástico bolha e fita crepe, isolando completamente a janela de possíveis aberturas ao longo do dia. Essa opção é muito utilizada pelo americano durante uma nevasca. No caso das casas americanas, deve-se fazer o isolamento das esquadrias para vãos e gastar muito com o sistema de calefação. Já nas casas brasileiras, é uma opção, pois a maioria das casas não têm sistemas de calefação”, indica.
Por fim, Wittmann recomenda a utilização de esquadrias personalizadas com múltiplos encaixes em formato de escadinha, que podem aumentar significativamente a eficiência do isolamento. “Testes de laboratório realizados por fornecedores podem conter dados precisos sobre o desempenho dos caixilhos em termos de isolamento térmico e acústico”, observa.
Fontes: Universidade Presbiteriana Mackenzie
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