Historicamente, mulheres sempre estiveram em situação mais crítica no mercado de trabalho quando comparadas com os homens. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição de referência em ensino e pesquisa, a diferença dos níveis de desemprego entre os gêneros atingiu 16% no ano de 2021. Além disso, 49% das mulheres estavam desempregadas até o final do ano passado.
Ainda conforme a instituição, 45% das mulheres são responsáveis pela principal renda familiar. Foi através de buscas por outras alternativas que elas começaram a desbravar um mercado historicamente masculino: as pequenas reformas e construção.
Geny do Carmo, moradora de Santa Teresa do Oeste (PR), também conhecida nas redes sociais como pedreira Geny, buscou um novo caminho depois de anos trabalhando como costureira. Ela afirma que estava insatisfeita com o rendimento médio de um salário mínimo e, assim, ingressou na nova carreira depois de se candidatar para uma vaga de servente. “Eu comecei a trabalhar com construções em 2009, quando vi que uma construtora da cidade estava contratando mulher para servente. Me candidatei e fui selecionada. Fazia a minha função, mas sempre atenta ao trabalho dos pedreiros”, comenta.
Entre os desafios apontados pela pedreira, estão o preconceito de uma parcela dos profissionais do setor. “Ouvi de outros profissionais que o meu trabalho era muito pesado para uma mulher. Quando comecei em 2009 era raro ver uma mulher na obra. Hoje, ainda bem, já é mais comum.”
O crescimento no número de mulheres em atividades relacionadas a pequenas reformas e construções também começa a ser percebido entre as grandes empresas do setor. Daniela Kricowski, especialista em varejo e produto da Super Pro Atacado, atacadista do setor de equipamentos e ferramentas, comenta que é perceptível o crescimento na base de clientes do e-commerce com um incremento de mulheres nas compras realizadas, além do reflexo no movimento das lojas físicas.
“Percebemos, principalmente depois da pandemia, um aumento crescente no número de mulheres que buscam as nossas lojas físicas ou visitam o nosso e-commerce para comprar equipamentos e ferramentas profissionais”, afirma Daniela.
A pedreira Geny conta que seu ganho médio mensal é de três a cinco vezes maior do que na época de costureira. E que, para ajudar outras mulheres a superarem os medos e preconceitos, criou um perfil na internet onde publica vídeos ensinando como fazer determinadas atividades. “Já recebi centenas de relatos de mulheres que hoje estão trabalhando em obras e que se sentiram motivadas a partir dos meus vídeos”, relata.
DEFASAGEM HISTÓRICA
A pesquisa realizada pela FGV traz ainda dados que revelam que a participação das mulheres no mercado de trabalho tem sido inferior a dos homens ao longo dos anos, sendo o nível de escolaridade o principal indicativo. O estudo aponta que 32% das mulheres com formação até o ensino fundamental estavam empregadas. Já entre as mulheres com ensino superior, o índice sobe para 87%.
Fabricio Palermo Pupo, coordenador dos cursos de gestão e comunicação do Centro Universitário Opet (UniOpet), explica quais são os principais desafios das mulheres e porque a pandemia impactou ainda mais as profissionais. “Esse é apenas um cenário de toda a problemática que envolve as mulheres e os desafios na carreira feminina. Isso porque ainda é preciso lidar com o preconceito interno, o de não acreditar ser capaz de conseguir um cargo maior, a batalha por um salário compatível ou ser reconhecida pelo que faz.”
“As dificuldades, assim como as superações e as conquistas das mulheres no mercado de trabalho, vêm de longa data. Apesar disso, ainda há muito a ser debatido sobre o tema e, por que não, a ser melhorado. Prova disso é um relatório do Fórum Econômico Mundial, que concluiu que a igualdade de gêneros só se dará em 2095. Isso se a evolução dos direitos das mulheres seguir no mesmo ritmo atual”, finaliza o coordenador.
Fonte: Assessoria Talk Comunicação
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