A representação das portas e janelas na planta baixa e os detalhes do seu desenho técnico
Por Stephanie Fazio
“Da janela vê-se o Corcovado, o Redentor, que lindo”. Esse trecho da canção “Corcovado”, de Tom Jobim, foi citado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha para explicar que: “o elemento mais importante é a janela, não a cena propriamente dita, pois é ela que enquadra a vista e direciona o nosso olhar ao que importa”, relembra Denise Polonio, arquiteta e urbanista, professora e representante acadêmica do curso de especialização em Gerenciamento de Empreendimentos da Construção Civil da FAU-Mackenzie.
Segundo a professora, ao se pensar as esquadrias devemos considerar que estas, além de desempenharem uma função prática, cumprem características estéticas ao mesmo tempo em que estabelecem uma relação do espaço interno com o exterior. O material escolhido para as portas e janelas também faz diferença em uma fachada ou em um espaço. “As escalas dos desenhos das esquadrias variam de acordo com a complexidade dos sistemas de vedação escolhidos e devem ser suficientes para a compreensão tanto do caráter técnico desta escolha quanto dos efeitos de composição nas fachadas e ambientes internos”, relata.
Elisabete Cassettari, diretora técnica e comercial da empresa Eurosystem, explica que atualmente as aberturas estão cada vez mais amplas e técnicas e que as esquadrias devem ser posicionadas no projeto de modo a privilegiar a entrada de luz e, ao mesmo tempo, evitar a transmissão de calor. “Primeiramente, deve-se ter atenção à face onde estão as aberturas (norte, sul, leste ou oeste), assim poderão ser dimensionadas corretamente e os vidros serão escolhidos de modo a atender todos os requisitos de insolação, iluminação ou acústica”, destaca.
Após essa etapa, a diretora conta que as portas e janelas devem ser representadas em uma planta baixa, mostrando o número de folhas e sentido de abertura. “Uma folha específica com os detalhes das esquadrias enriquece o projeto, esclarece todas as dúvidas e ajuda no processo de levantamento de custos da obra”, diz. Em sua opinião, o arquiteto deve demonstrar de forma clara o posicionamento e o tipo de esquadrias escolhidas, além de utilizar todos os recursos gráficos disponíveis.
Para Andrea Camillo, arquiteta que atua no escritório que leva seu nome, os desenhos devem ser elaborados em planta baixa, cortes e vistas. “Normalmente, as portas são representadas abertas em planta e fechadas em cortes e vistas, por exemplo. Cada esquadria é reproduzida de uma forma diferente, dependendo do seu modelo (maxim-ar, basculante, de correr, guilhotina, entre outras)”, detalha. Já as escalas, perspectivas e vistas das portas e janelas na planta são pensadas de forma a propiciar o bom entendimento do fornecedor sobre o projeto e também para facilitar a instalação das peças na obra, informa.
O projeto de arquitetura é desenvolvido em etapas e o detalhamento das esquadrias é necessário ao entendimento de como este item se relaciona com os demais elementos construtivos envolvidos na execução da obra, conforme Denise.
A professora relata que o material gráfico correspondente compreende, inicialmente, a localização das esquadrias nas plantas a fim de caracterizar o uso específico de cada porta ou janela e suas respectivas quantidades consideradas em todos os ambientes. O mercado de esquadrias oferece várias opções de material, tipo de abertura, formato, acabamento e sistema de fixação das alvenarias, os quais são especificados de acordo com as funções e efeitos estéticos desejados, complementa. “A representação das esquadrias no projeto de arquitetura deve ser didática, a fim de tornar clara a relação com os demais elementos de vedação e acabamento, além de explicitar as paginações das folhas, para o caso das janelas e também do sistema de abertura considerado”, afirma.
Existem várias normas que dão suporte na escolha das esquadrias, dos vidros e dimensionamento de ambos. Para Andrea, devem ser seguidos os requisitos presentes nas normas da ABNT 10821-2 e 10821-4. Elisabete cita a NBR 7100 vidros na construção civil; NBR 6123 - Forças devidas na construção civil, onde são encontrados os cálculos de pressão de ventos e assim dimensionados os tipos de vidros e espessuras. A NBR 11 706 - vidros na construção civil; NBR 6485 e 1081 - Esquadrias para Edifícios; e NBR 15 575 - Norma de desempenho, que regula o desempenho que cada produto deve realizar na construção, também são lembradas.
Denise elucida que a produção de esquadrias no mercado brasileiro está regulamentada pela norma NBR 10.821, a qual tem por função determinar as condições de desempenho de caixilhos nas edificações residenciais e comerciais, visando assegurar que os produtos entregues ao consumidor tenham condições mínimas, especificamente, quanto à resistência a cargas uniformemente distribuídas, cumprindo o papel de conforto térmico, vedação e segurança.
Os requisitos estabelecidos pela norma, conforme a professora, são: permeabilidade ao ar; estanqueidade à água; resistência às cargas uniformemente distribuídas; resistência às operações de manuseio; manutenção da segurança durante os ensaios de resistência às operações de manuseio; resistência à corrosão; desempenho acústico; desempenho térmico; iluminação e ventilação natural.
A norma NBR 15930 estabelece os requisitos para portas de madeira para edificações, segundo as seguintes condições: ações higroscópicas, esforços mecânicos e ações de tráfego, que definem a durabilidade do produto, aponta Denise. “A norma técnica de portas de madeira estabelece, a partir desses requisitos, classes de desempenho por localização de uso, classificadas como porta interna de madeira, porta interna de madeira resistente à umidade, porta de entrada de madeira, porta de entrada de madeira resistente à umidade e porta externa de madeira”, cita a docente.
O DESENHO TÉCNICO
O desenho técnico em arquitetura tem por finalidade a representação das edificações o mais próximo do possível, em formas e dimensões, conta Denise. As esquadrias, em geral, podem ser representadas de forma simplificada ou mais detalhada. Ela explica que os softwares de desenho permitem a utilização de blocos, que são estruturas compostas onde é possível agrupar entidades de diversos tipos, como linhas, arcos, textos e atribuir-lhes um nome de identificação e um ponto de inserção, criando assim uma biblioteca de desenhos. “Quanto menor a escala de impressão, mais simplificada deve ser a representação da esquadria”, diz.
Reprodução: Victória Carolina Becker, Pinterest e Unsplash
Devido a importante função que desempenham numa edificação, as esquadrias podem ser divididas em diferentes formas e, de acordo com o tipo do material e a necessidade de controle acústico, conforto térmico e segurança, devem ser representadas em escalas que permitam a leitura correta de seus componentes e meios de fixação nas estruturas e alvenarias das edificações, segundo a docente.
“Sobretudo para climas mais severos, o grau de sofisticação técnica de uma esquadria é notável, onde os detalhamentos de caixilhos são quase obras de arte, de tão intrincados que são todos os encaixes, dobras e peças”, destaca Denise.
“Dada a grande variedade de produtos, é quase impossível o arquiteto reproduzir com exatidão o desenho técnico das esquadrias. As próprias empresas não fornecem estes desenhos, por se tratarem de produtos específicos”, comenta Elisabete. O arquiteto deve representar o número de folhas, sentido de aberturas e tipos de vidros, já as maiores informações podem ser solicitadas posteriormente para o fornecedor escolhido, conforme a diretora.
VALORIZAÇÃO DA OBRA
A escolha correta das esquadrias faz toda a diferença para se alcançar um bom resultado quanto à iluminação e ventilação do ambiente, conforme Andrea Camillo, arquiteta. Já na opinião de Elisabete Cassettari, diretora técnica e comercial da empresa Eurosystem, as portas e janelas definem o sucesso de um projeto. “O aproveitamento da luz natural enriquece a obra”, diz.
Reprodução: Andrea Camillo
Para Denise Polonio, arquiteta e urbanista, professora e representante acadêmica do curso de especialização em Gerenciamento de Empreendimentos da Construção Civil da FAU-Mackenzie, a escolha do tipo de esquadrias é parte importante e crítica, a qual pode em muito comprometer ou alterar a percepção da edificação a partir dos volumes de suas fachadas. Uma das primeiras decisões diz respeito ao material e o efeito desejado relativo às cores, texturas, padrões de desenho, grau de transparência e opacidade pretendidos.
Outra questão que cabe ao projeto de arquitetura definir refere-se ao modo como as esquadrias serão fixadas em relação aos vãos. Embora a geometria dos vãos e das esquadrias obedeçam aos conceitos pré-estabelecidos pelo projeto de arquitetura e também a partir dos critérios técnicos dos fabricantes, pode-se alterar significativamente o resultado na composição de uma fachada e também a percepção das paredes internas, dependendo de como as esquadrias serão fixadas, afirma a professora.
“Ou seja, podemos optar pelos caixilhos e esquadrias faceando o lado externo, interno, no meio da espessura do vão, sobrepostos ou ainda em sistemas mais sofisticados como a pele de vidro também chamado de fachada-cortina, que faz com que os perfis estruturais de alumínio ou PVC fiquem ocultos, resultando numa fachada totalmente envidraçada, adquirindo visual limpo e liso”, conclui Denise.
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