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Equipe Contramarco

ENTENDA COMO O VIDRO CURVO É FABRICADO E AS SENSAÇÕES QUE DESPERTA NO AMBIENTE

O material transforma as fachadas de projetos ousados, mas possui etapas de beneficiamento cuidadosas


Por Stephanie Fazio


Emporia, edifício multiuso na Suécia/Reprodução: Arch Glass

O calor é aplicado sob peças prontas de vidro plano (tipo float), que são cortadas no tamanho adequado, previamente limpas por agentes químicos e posicionadas sobre moldes metálicos com a curvatura final desejada. Os fornos resistivos ou a gás, atingem temperatura suficiente para a redução da viscosidade do material, causando seu amolecimento controlado, esse é o início do processo de curvatura do vidro. As temperaturas de mudança de viscosidade variam de acordo com a composição química do vidro usado, descreve Everton Bonturim, professor de química e engenharia de materiais da Universidade Presbiteriana Mackenzie.


“Sendo o vidro soda-lima silicato, o mais comum, sua temperatura de processo adequada pode variar entre 600 - 700ºC, para que sejam alcançados os pontos de amolecimento e ponto de trabalho, uma vez nesta condição, a gravidade fica responsável por mover o vidro contra as paredes do molde metálico posicionado abaixo”, segundo o docente.


Sobre o modelo de forno ideal, Bruna Nandi da Motta, membra da diretoria da Vipel, beneficiadora de vidros, afirma que depende muito de cada aplicação e que a marca utiliza um forno de fabricação de vidros curvos temperados. “Usamos a técnica de curvatura de vidros em forno de têmpera com calandra. O vidro é aquecido a uma temperatura entre 600 a 650°C, com isso, é curvado em uma calandra, de acordo com o raio especificado, logo após passa por um resfriamento e têmpera”.


O processo de resfriamento é tão delicado quanto o de aquecimento, pois o momento requer paciência e controle preciso dos possíveis gradientes térmicos gerados pelas perdas de calor dos diferentes materiais envolvidos no processo (vidro + molde metálico + ar), explica Bonturim. Em seguida, o produto ainda passará pela etapa de recozimento, para minimização de tensões residuais, controle de qualidade, embalagem e transporte.


Para a profissional, já na primeira fase de planejamento do pedido, é necessário avaliar os detalhes para que não haja problemas e, para isso, é preciso ter colaboradores qualificados e fórmulas para calcular os projetos, como flecha, raio e vista da curvatura (côncavo ou convexo). “Os beneficiadores devem saber exatamente sua capacidade de produção antes de aceitar os pedidos”.


Reprodução: Arch Glass

No processo produtivo, os maiores cuidados, conforme a colaboradora, são com os rolos forno limpos, para não causar marcas nas peças; ajustes de receitas; regulagem das calandras e pressões corretas; cuidado com excesso de temperatura, pois podem ocorrer problemas como manchas e marcas do rolo; e cuidados com a pressão de ar, que pode impactar na fragmentação do vidro.


Além disso, cada área específica (construção civil, indústria moveleira, automobilística, náutica, entre outras) possui fornos com um tipo de curvatura. O objetivo dos modelos é melhorar o rendimento e variar a espessura e o tamanho do vidro, além do seu raio de curvatura, para definir se será mais aberta ou fechada, de acordo com o portal Jornal do Vidro.


NORMAS TÉCNICAS ENVOLVIDAS


O setor de vidros aplicados baseia-se em orientações registradas nas normas técnicas brasileiras (NBRs) regulamentadas e publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Os objetivos das normas técnicas incluem o ordenamento do mercado, a qualidade e a segurança dos produtos e serviços prestados por determinados setores, afirma Bonturim.


Bruna informa que não existe uma norma técnica específica para vidros curvos, porém a principal diretriz técnica para ser seguida é a NBR 7199 — Vidros na construção civil — Projeto, execução e aplicações.


No que diz respeito especificamente ao processo de produção e aplicação do vidro comercial, temos, segundo o professor: a NBR NM 293 (2004): Terminologia de vidros planos e dos componentes acessórios a sua aplicação; NBR NM 294 (2004): Vidro float; NBR 7199 (2016): Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações; PR 1010 (2021): Aplicação e manutenção de vidros na construção civil; NBR 14718 (2019): Esquadrias – Guarda-corpos para edificação – Requisitos, procedimentos e métodos de ensaio.


Ele também cita a NBR 16259 (2014): Sistemas de envidraçamento de sacadas – Requisitos e métodos de ensaio; NBR 15737 (2009): Perfis de alumínio e suas ligas com acabamento superficial – Colagem de vidros com selante estrutura; NBR 14697 (2001): Vidro laminado; NBR 14698 (2001): Vidro temperado; NBR 16023 (2020): Vidros revestidos para controle solar – Requisitos, classificação e métodos de ensaio; e NBR 16015 (2012): Vidro insulado – Características, requisitos e métodos de ensaio.


“CONTINUIDADE” AO AMBIENTE


“Do ponto de vista técnico, a aplicação dos vidros curvos pode trazer vantagens imensas no aproveitamento de espaços, no design e estética e nas funções de separação de ambientes, eficiência energética, isolamento acústico e térmico e aproveitamento de iluminação natural”, diz o professor.


Ele relata que este modelo pode ser usado em fachadas, coberturas e guarda-corpos, desde que atenda às características de segurança da norma técnica NBR 7199, que descreve o tipo de vidro adequado para cada vão a ser fechado (laminado, temperado, insulado), o cálculo de espessura e detalhes construtivos e de aplicação, como uso de calços, recortes, furos, folgas, entre outros.


“Do ponto de vista estético, os vidros curvos trazem uma linha de continuidade ao ambiente, um aspecto de leveza e sensação de espaço mais bem aproveitado, principalmente porque reduz, quando comparado ao uso de vidros planos, a presença de junções e cantos retos, imprimindo um aspecto mais orgânico”, aponta Bonturim. Em fachadas, os vidros curvos podem ajudar também na dissipação de forças causadas pela ação dos ventos, completa.


Reprodução: Curvebras

Liberdade de criação para arquitetos e engenheiros, na hora de desenhar e especificar os produtos de seu projeto, essa é a característica citada pela colaboradora sobre o uso do produto. “Com o vidro curvo, pode-se criar formas que o modelo plano não atenderia. Atualmente, a procura está em crescimento com o maior conhecimento dos profissionais e especificadores”.


De acordo com o docente, toda fachada que faz uso de vidros curvos acaba se tornando um ponto de referência arquitetônico, seja pela beleza e ousadia ou seja pelo ar de tecnologia e inovação do ambiente. Como exemplo marcante, ele menciona o City History Museum MAS, localizado na Bélgica.


“Um projeto concluído em 2010, de um prédio belíssimo de 20 mil m², que conta com galerias em diferentes andares, separadas por seções com fachadas de vidro curvo ondulado do chão ao teto que, quando iluminado de dentro para fora ao anoitecer, passa a impressão dos andares estarem flutuando uns sobre os outros”, detalha Bonturim.


City History Museum MAS/ Reprodução: Neutelings Riedijk Architects


Outro destaque para ele, agora brasileiro, é o Condomínio do Edifício Lagoa 1000, localizado em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas, Ipanema, (RJ). A obra é do arquiteto Ruy Ohtake e possui fachada feita toda em vidro curvo, representando as ondas do mar e as silhuetas das montanhas, inspirado no local onde o prédio foi construído.


O vidro curvo é cada vez mais usado em obras de guarda-corpo de escadas, quando os arquitetos vão conhecendo as aplicações do modelo, ganham mais confiança em utilizá-lo, segundo Bruna.


“A primeira vez que vi uma escada feita inteiramente de vidro foi em uma loja de smartphones em São Francisco, no norte da Califórnia, confesso que foi surpreendente perceber a estabilidade daquela estrutura de três andares toda em vidro, com pequenas conexões metálicas (parafusos), que a sustentavam contra a parede também em vidro”, relembra o docente. “Acredito que devo ter ficado uns 20 minutos parado analisando aquela estrutura, mas minha expressão certamente era de contemplação”, conta.


Reprodução: ArchDaily, Vidrado e Viva Decora


Ele acredita na experiência e no design moderno que um elemento assim pode trazer ao ambiente. O profissional reitera que normas de segurança precisam ser seguidas a rigor em aplicações desta natureza. Então, as pessoas não podem esperar menos do que placas espessas de vidro laminado e com textura na superfície, para atender aos esforços mecânicos cíclicos e ao quesito de atrito dos calçados dos usuários.


Por ser classificado como uma aplicação de segurança, o vidro curvo também pode ser avaliado, de acordo com a sua estrutura final, como um vidro curvo temperado, vidro curvo laminado ou uma combinação dos dois. O professor comenta que os processos de fabricação desses vidros de segurança curvos são mais complexos, caros e demorados, mas garantem as características mínimas para aplicações descritas nas normas técnicas.

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