Como minimizar perdas, análises necessárias para segurança das construções nas regiões propensas de alagamento e tecnologias para auxiliar na recuperação
*Por Emanuelle Ormiga

Ao abordar a gestão do risco de enchentes e desastres naturais, Leonardo Gomes, engenheiro civil e sócio diretor da Golva Engenharia (empresa especializada em patologia das construções, engenharia diagnóstica, gerenciamento e fiscalização de obras), acredita ser crucial considerar não apenas medidas preventivas e regulamentações, mas também investimentos em infraestrutura resiliente e estratégias de adaptação.
“Por exemplo, a implementação de sistemas de alerta precoce pode ajudar a minimizar danos e salvar vidas em caso de enchentes repentinas. Além disso, a adoção de práticas de manejo sustentável da água, como a implantação de áreas verdes permeáveis e projetos de retenção de água, pode reduzir o escoamento superficial e mitigar o impacto das chuvas intensas”, explica.
Além disso, menciona que a recorrência e cuidados na manutenção regular para garantir seu funcionamento adequado são necessários. Isso inclui a limpeza periódica de bueiros, canaletas e galerias pluviais, bem como a identificação e correção de possíveis obstruções ou danos nas estruturas. “A realização de inspeções preventivas também é importante para detectar problemas antes que se tornem mais graves e onerosos de serem corrigidos.”
Outro aspecto importante é o planejamento urbano adequado, que considere as áreas de risco e restrinja o desenvolvimento urbano em locais propensos a alagamentos, de acordo com o sócio. “Isso pode ser alcançado por meio da revisão e atualização dos planos diretores municipais, garantindo que novas construções sejam realizadas em áreas seguras e que as áreas de preservação permanente sejam respeitadas”, afirma.
Existem normas brasileiras da ABNT voltadas para o direcionamento construtivo correto das edificações e das infraestruturas urbanas, que trabalham justamente sobre as ópticas de segurança e durabilidade nas mais variadas situações em que podem ser acometidas. Entretanto, devido às particularidades e contexto de risco que cada município possui, é essencial somar a estas normas a aplicação de uso dos Códigos de Obras dos Municípios. Gomes explica que o código de obra é um conjunto de normas e regulamentações estabelecidas para o contexto local do município que, entre diversas funcionalidades, auxilia nas informações de zoneamento, requisitos técnicos e condições de segurança para as construções daquela localidade.
Entre as análises necessárias para a segurança das construções nas regiões propensas de alagamento, o engenheiro diz que o mais necessário é, sem dúvida, conhecer os dados hídricos do local. “Esses dados podem ser obtidos por meio de estudos, levantamentos e pesquisas, e nos proporcionam um padrão de comportamento das chuvas e fluxos de água no local. Juntamente com o conhecimento do comportamento hídrico do local, precisamos ter uma análise ampla sobre a geotecnia do solo, de forma a estabelecer as melhores alternativas construtivas para a concepção das edificações, desde uma fundação adequada ao local.”
Para as construções já existentes, Gomes pontua que devem ter um plano de análises periódicas, que envolve avaliações dos elementos construtivos, principalmente o comportamento das estruturas. “Essas análises, de modo geral, devem ser conduzidas por profissionais habilitados e consistem em verificar possíveis danos, desgastes e vulnerabilidades que possam comprometer a segurança da edificação”, completa.
ESQUADRIAS: MATERIAIS QUE SÃO MAIS RESISTENTES PARA ESSAS SITUAÇÕES
De acordo com o sócio, materiais como o PVC apresentam uma alta resistência à água e umidade, além de oferecer uma excelente manutenção. O alumínio, um dos materiais mais usados em esquadrias, também oferece algumas vantagens nessas situações, entre elas, menciona a resistência alta à corrosão e sua alta durabilidade. Madeiras nobres, com tratamentos e cuidados adequados, também podem ser utilizadas, na opinião de Gomes.
INDÍCIOS DE RISCO DE DESABAMENTO
Entre os sintomas mais comuns, o engenheiro destaca o surgimento e/ou aumento de fissuras em paredes, tetos ou pisos. “Essas fissuras podem variar em tamanho e orientação, sendo importantes sinais da movimentação da estrutura”, explica. Deformações visíveis, como afundamentos ou deslocamentos de elementos estruturais, também são sinais preocupantes, pois podem indicar falhas na fundação ou nos elementos estruturais.
Além disso, ruídos estranhos, como estalos, podem ser indícios de movimentação ou falha dos elementos estruturais. A presença de infiltração e umidade ascendente é outro sinal importante, pois indica possíveis danos nas fundações ou nas impermeabilizações.
Nas áreas externas, é crucial estar atento a sinais como erosão do solo e movimentações repentinas de terra, principalmente em encostas e taludes, pois podem indicar instabilidade do terreno e aumentar o risco de deslizamentos.
“A observação desses sinais requer a avaliação técnica de um profissional habilitado, pois, assim como na saúde humana, um sintoma pode representar diversos problemas, que podem retratar casos graves ou que apenas requerem pequenas intervenções”, finaliza o engenheiro.
ENCHENTES NO RIO GRANDE DO SUL: 7 TECNOLOGIAS PARA AUXILIAR NA RECUPERAÇÃO E PREVENÇÃO DO ESTADO
Para Sibylle Muller, CEO da NeoAcqua, especialista em economia verde a partir de sistemas de tratamento de água e esgoto, a aplicação de tecnologias coordenadas é essencial não apenas para a recuperação das áreas impactadas, mas também para a construção de uma infraestrutura resiliente. "Investir em sistemas de drenagem inteligente, reservatórios de retenção e infraestrutura verde pode salvar vidas e proteger as comunidades. A aplicação dessas inovações é indispensável para evitar novos desastres e reduzir impactos por chuvas e inundações", explica.
A seguir, Sibylle reuniu algumas das tecnologias e providências que podem ser implementadas para auxiliar na recuperação pós-enchente e prevenir futuros desastres:
Sistemas de Drenagem Inteligente: Utilizando sensores e a IoT (Internet das Coisas), esses sistemas monitoram e controlam o escoamento de água em tempo real. Eles medem os níveis de água, podem detectar entupimentos e acionar bombas e comportas automaticamente, garantindo a eficiência do escoamento e prevenindo inundações localizadas;
Reservatórios de Detenção e Retenção: Esses reservatórios, subterrâneos ou a céu aberto, armazenam grandes volumes de água durante chuvas intensas, liberando-as lentamente para evitar sobrecarregar os sistemas de drenagem. Essa técnica ajuda a controlar o fluxo de água e a reduzir o risco de enchentes;
Infraestrutura para retenção de águas de chuva: Soluções como telhados verdes, jardins, praças, parques ajardinados e canteiros com plantas e árvores, pavimentos permeáveis, pisos com elementos vazados com grama no meio e áreas de infiltração podem absorver e reter a água de chuva antes que ela atinja os sistemas de drenagem urbana, reduzindo o volume de água superficial e a carga sobre a infraestrutura existente;
Sistemas de separação de sólidos: Dispositivos colocados na saída da tubulação de águas pluviais, antes da entrada para a rede pública de drenagem e que tem a finalidade de separar e reter sólidos grosseiros e impedi-los de entrar na tubulação de modo a evitar entupimentos da rede e o assoreamento dos corpos d’água receptores (rios, lagos e represas). Sólidos grosseiros, se não retidos, podem criar obstáculos na rede de drenagem urbana, não permitindo o escoamento da água, podendo causar enchentes à montante da obstrução. Corpos d’água assoreados apresentam menor altura de lâmina d’água para escoamento, podendo causar o aumento do nível da água a ser escoada, com possibilidade de extravasão nas margens e consequentemente de enchentes;
Modelagem Hidrológica e Previsão de Chuvas: Utilizando modelos hidrológicos avançados e previsões meteorológicas, é possível prever eventos de chuvas intensas e tomar medidas preventivas, como ativar sistemas de bombeamento ou esvaziar reservatórios, mitigando os impactos das enchentes;
Monitoramento e Alerta Precoce: Sistemas de monitoramento contínuo dos níveis de rios, canais e bueiros, combinados com sistemas de alerta precoce, avisam a população e autoridades sobre riscos iminentes de enchentes, permitindo uma resposta rápida e eficaz;
Sistemas de Reciclagem de Reuso de Água Pluvial: Infraestruturas que capturam, tratam e aproveitam a água da chuva para uso em fins não potáveis e assim reduzem a quantidade de água que precisa ser gerenciada pelos sistemas de drenagem, aliviando a pressão durante eventos de precipitação intensa;
"Essa implementação requer um esforço coordenado entre governos, empresas e a sociedade, destacando a necessidade de políticas públicas eficazes e investimentos contínuos em infraestrutura e educação. A adoção dessas medidas pode transformar a gestão de águas urbanas e garantir que as cidades estejam preparadas para enfrentar eventos climáticos extremos", finaliza a especialista.
Fonte: Golva Engenharia e NeoAcqua/Agência Contatto
Comments