*Por Fernando Simon Westphal, consultor técnico da Abividro, engenheiro civil, professor e pesquisador da UFSC
Avaliar o nível de eficiência energética de um equipamento ou sistema requer sempre uma análise comparativa. Se um sistema é eficiente, então o seu uso de energia deve ser menor do que uma referência e o serviço prestado deve ser o mesmo. Por exemplo, uma lâmpada é mais eficiente do que outra se proporcionar o mesmo fluxo luminoso com menor consumo de energia. Apenas com um benchmark (processo de busca das melhores práticas de gestão da entidade numa determinada indústria e que conduzem ao desempenho superior) conseguimos concluir se um produto é de fato eficiente ou não.
NO CASO DAS ESQUADRIAS, COMO AVALIAR A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA?
Uma esquadria não consome energia durante o seu uso, mas pode influenciar na demanda energética de outros sistemas da edificação onde está instalada. Em climas brasileiros, o sistema de ar-condicionado é o uso final de energia das edificações mais afetado pelas esquadrias, que estão submetidas à quatro formas de trocas de calor:
1. Ganho de calor solar através do vidro;
2. Condução de calor através do vidro;
3. Condução de calor através dos perfis;
4. Infiltração de ar por frestas e pelo uso da esquadria.
A etiqueta de desempenho térmico de esquadrias, incorporada na NBR 10821-4 — Esquadrias para edificações - Parte 4: Esquadrias externas — Requisitos adicionais de desempenho avalia a influência dos três primeiros itens nas condições de conforto térmico interno de uma edificação padrão. O item de maior peso nos climas quentes é o ganho de calor solar através do vidro. Mesmo com o uso de vidros eficientes, a parcela de calor da radiação solar é muito maior do que as trocas por condução ou infiltração de ar. A condução de calor através do vidro vem em segundo lugar e, por último, a condução pelos perfis.
Na época dos estudos para o desenvolvimento do método adotado nessa etiquetagem, entre os anos 2012 e 2013, discutiu-se a possibilidade de avaliar a influência das esquadrias no consumo de energia com climatização, situação em que a infiltração de ar teria também um papel importante. Entretanto, naquela época o uso de ar-condicionado ainda não era expressivo nas residências, e decidiu-se por medir o desempenho apenas pelo impacto no conforto térmico em edificações naturalmente ventiladas.
Em 2019, a Eletrobras publicou um relatório atualizado da sua “Pesquisa de Posse e Hábitos de Uso de Equipamentos Elétricos na Classe Residencial - PPH” (link ao final deste artigo). O estudo revelou que apenas 14% dos domicílios brasileiros possuem ar-condicionado, mas as disparidades por região e classe social são enormes.
Na região Norte, 24% dos domicílios possuem ar-condicionado, enquanto na região Nordeste apenas 5% das residências dispõem do equipamento. Na região Sul, a ocorrência é de 21% e nas regiões Sudeste e Centro-Oeste é de 15%. Esse cenário indica que o potencial de expansão do consumo de energia para climatização no setor residencial brasileiro é enorme. Não por questões de mudanças climáticas ou projetos mal resolvidos (isso é assunto para outra discussão ainda mais longa), mas porque a popularização da tecnologia permite que mais famílias tenham acesso aos equipamentos, em busca de mais horas de conforto. Basta ver o que aconteceu com a indústria automobilística. Não é porque as “distâncias aumentaram” que a população passou a ter mais carros, mas sim devido à evolução tecnológica, estabilidade econômica e o acesso a mais linhas de crédito. Tal fenômeno vem ocorrendo com outras tecnologias e isso é uma oportunidade para o setor de esquadrias.
A penetração de aparelhos de ar-condicionado deve continuar aumentando. O uso de componentes mais eficientes nas edificações deve acompanhar esse processo, abrindo oportunidade para produtos mais eficientes e de maior valor agregado. Os recentes estudos para revisão da Norma de Desempenho (NBR 15757) e adaptação da norma de eficiência energética em edificações (ISO 52000) começam a se voltar para as esquadrias com mais atenção e passamos a discutir sobre transferência de calor através dos perfis, elementos de sombreamento, controle de ventilação e infiltração de ar. Tem muito a ser debatido sobre esses quesitos no mercado nacional.
Leitura adicional:
Pesquisa de Posse e Hábitos de Uso de Equipamentos Elétricos na Classe Residencial – 2019: eletrobras.com/pt/Paginas/PPH-2019.aspx
*Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.
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