Por: Stephanie Fazio
Michele Gleice, engenheira e diretora do Itec, comenta sobre sua carreira profissional e explica quais são os benefícios dos procedimentos para os consumidores e para as obras

Revista Contramarco – Conte como surgiu o seu interesse pela área de construção civil. Relembre as principais etapas de sua trajetória profissional.
Michele Gleice - Eu tomei conhecimento da área da construção civil ao final do ensino fundamental, enquanto buscava um curso técnico para cursar juntamente com o ensino médio. Na época, o ensino médio e o técnico eram integrados, e eu queria me profissionalizar para ter melhores opções ao entrar no mercado de trabalho, antes de cursar a graduação, que até aquele momento ainda era indefinida.
Dentro de tantos cursos disponíveis, me interessei pelo Técnico em Edificações, prestei o vestibulinho e fui aprovada. No último ano do curso, fui admitida no programa de estágio em um laboratório de ensaios na área de solos e pavimentação, deste programa fui efetivada para trabalhar como técnica no laboratório de materiais para construção civil. Assim, há 24 anos vivo e respiro laboratório de ensaios, normas técnicas e sistemas de gestão. Esta é a área à qual me dedico, que me motiva a sempre aprender mais e dividir o conhecimento.
Após a conclusão do ensino médio e técnico, cursei a graduação de engenharia civil e concluí uma MBA em gestão empresarial.
Todo meu histórico profissional é na área de laboratório de ensaios, trabalhando com os mais diversos produtos, principalmente no segmento da construção civil. Comecei trabalhando na Falcão Bauer onde, por mais de seis anos, tive a oportunidade de aprender muito, com excelentes profissionais. Há 15 anos fui convidada para integrar o time do Instituto Tecnológico da Construção Civil (Itec). Aceitei o desafio e até hoje é o trabalho que me motiva a sempre entregar o meu melhor.
Revista Contramarco – Comente sobre como se dá a dinâmica de trabalho como diretora do Itec.
Michele Gleice – Como diretora técnica, o grande objetivo é assegurar a imparcialidade na realização dos ensaios, a confidencialidade dos resultados e produtos ensaiados e atender aos requisitos, tanto normativos, quanto dos nossos clientes. É preciso compreender as necessidades de cada cliente e oferecer o serviço que melhor atenda suas expectativas.
Por exemplo, um fabricante que deseja desenvolver um produto não tem interesse em realizar um ensaio somente para receber o relatório com resultado, principalmente se este resultado não atender aos requisitos normativos. Este cliente precisa entender o processo de ensaio e ter a possibilidade de aplicar ajustes em seu produto, visando melhorar o desempenho.
Já uma construtora que comprou esquadrias e recebeu um lote, pode ter por objetivo a avaliação dos produtos entregues na obra, ou seja, o resultado do ensaio irá demonstrar se estas esquadrias recebidas atendem às normas técnicas.
Também é necessário garantir que tenhamos profissionais qualificados para a realização dos ensaios, equipamentos adequados e calibrados e as instalações necessárias para atender nossos clientes, buscando o aprimoramento contínuo tanto dos profissionais, quanto das instalações e equipamentos.
Revista Contramarco – Qual a importância de testar os produtos que estão chegando ao mercado? Como funcionam as etapas dos ensaios para esquadrias, vidros e fachadas?
Michele Gleice – Na minha opinião, a principal importância em ensaiar os produtos que são oferecidos ao mercado é garantir ao comprador e ao consumidor final que os produtos atendam aos requisitos das normas técnicas brasileiras, produtos que oferecerão um desempenho adequado e seguro durante sua vida útil.
Os benefícios de se atender aos requisitos normativos se estendem tanto aos consumidores finais, às construtoras, incorporadoras e agentes financeiros, quanto aos fabricantes das esquadrias. O consumidor final terá a garantia de desempenho e segurança adequada para as esquadrias do seu imóvel.

A construtora que atende aos requisitos da norma de desempenho NBR 15575 – Desempenho das Edificações se resguarda em caso de eventuais reclamações futuras do consumidor final.
O agente financeiro assegura que o bem dado como garantia será mantido íntegro durante a vigência do financiamento. E o fabricante, por sua vez, comprova que está entregando um produto que atende às normas brasileiras e, consequentemente, o código de defesa do consumidor.
Revista Contramarco – Basicamente, como é feito o ensaio?
Michele Gleice – O processo do ensaio, resumidamente, acontece da seguinte forma: o cliente contata o laboratório, identificamos qual a tipologia da esquadria que será ensaiada, se é uma janela, porta, uma fachada-cortina, entre outras.
Depois, o laboratório verifica qual a câmara de ensaio adequada para a esquadria, considerando a dimensão e as características, verificando as normas técnicas aplicáveis, caso o cliente não tenha essa informação, e apresenta uma proposta comercial.
Na próxima etapa, a esquadria é instalada nos pórticos de ensaio pelo cliente e o ensaio é realizado sempre com acompanhamento por parte dele e dos demais interessados. Finalizado o processo de ensaio, o laboratório realiza a verificação do produto com o projeto entregue. Este projeto fará parte do relatório de ensaio e é importante verificar se o projeto confere com o item que foi ensaiado.

A conclusão do serviço é efetivada com a entrega do relatório de ensaio, onde constarão os detalhes do produto que foi ensaiado, os ensaios realizados, os resultados obtidos e quais são os requisitos normativos para estes ensaios.
É importante ressaltar que os ensaios em produtos enviados ao laboratório, seja pelo fabricante, construtora ou consumidor, que originam relatórios, demonstram se aquela “amostra” com suas características específicas de projeto, montagem e instalação atende ou não aos requisitos normativos da norma técnica — mas este ensaio não “certifica” um produto ou linha.
A certificação é um processo no qual uma entidade independente (terceira parte), acreditada pelo Inmetro, avalia se determinado produto atende às normas técnicas. Esta avaliação se baseia em auditorias no processo produtivo, onde o auditor visita a empresa fabricante para avaliar como é feito todo o controle da fabricação, desde a compra dos insumos até a entrega do produto para o consumidor.
Durante a auditoria é realizada a coleta aleatória de amostras do estoque, as quais serão encaminhadas para ensaios laboratoriais. O resultado satisfatório destes ensaios e da auditoria é que levarão à concessão da certificação.
Revista Contramarco – Como está a procura dos serviços por esse público?
Michele Gleice – A procura pela realização dos ensaios vem mantendo-se, mesmo nesse período de pandemia.
Grande parte dos clientes do Itec são fabricantes e sistemistas que querem verificar o desempenho dos seus produtos, prover melhorias ou ainda utilizar os ensaios para processos de certificação.
Além destes também atendemos, em número crescente, construtoras e incorporadoras, consumidores e peritos judiciais envolvidos em ações movidas devido ao desempenho das esquadrias.
Revista Contramarco – Na sua opinião, em termos de desempenho e segurança dos produtos, como o cliente final se beneficia ao adquirir um item testado pelo Itec?
Michele Gleice – O cliente final terá a garantia de desempenho e segurança adequados para as esquadrias instaladas em seu imóvel.
O desempenho adequado é importante para seu conforto, tal como esquadrias estanques à água, que suportem ações do vento e, principalmente, quanto à segurança. Afinal, ninguém quer uma esquadria em que a folha possa se desprender quando ocorrer uma rajada de vento ou ainda um guarda-corpo que não suporte o peso dos usuários encostando neste.

Revista Contramarco – Cite um case de sucesso do Itec que mais te marcou.
Michele Gleice – São muitos os clientes e obras atendidas que marcaram a história do Itec. Citar um único caso é muito difícil.
Mas posso afirmar que uma das grandes recompensas que tenho é quando nossos clientes acompanham os ensaios nos seus produtos, e mesmo nem sempre obtendo o resultado satisfatório de início, percebem a importância do ensaio, de compreender como o produto se comporta e que, muitas vezes, pequenos ajustes no projeto e/ou na produção podem melhorar o desempenho.
Gosto sempre de ressaltar que resultados que não atendem aos requisitos normativos devem ser vistos como aprendizado, pois estes vão fomentar os estudos e pesquisas para outras soluções. É muito melhor e mais barato “errar” no laboratório do que descobrir eventuais falhas na assistência técnica pós-venda, após receber reclamação do seu cliente.
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