O artista visual francês Charly Andral apresentou a intervenção urbana “Olhos nos Olhos”, que foi avistada em edifícios na região do Vale do Anhangabaú, na capital paulista. A instalação é composta por pares de olhos iluminados localizados em janelas de edifícios, visíveis a partir das ruas e de outros prédios, principalmente à noite. Esta intervenção fez parte da programação oficial da Virada Cultural, no mês de maio.
Em cada prédio, olhos distintos foram criados com o uso da inteligência artificial e inspirados em animais silvestres, em particular papagaios, répteis, peixes e anfíbios que habitavam o Rio Anhangabaú, hoje enterrado sob camadas de concreto. “Me interessaram os animais que não são considerados ‘nobres’, que sofrem um certo desprezo. Usei a inteligência artificial para distorcer os olhos dos animais, criando hibridações entre o mundo orgânico e o mundo digital; misturando, por exemplo, a íris natural com lentes de câmeras. Na verdade, esses prédios-bichos já vêm do futuro", explica o artista.
Com essa instalação, Andral prolonga uma pesquisa que debate as fronteiras entre floresta e cidade. Ele fez um paralelo entre estes animais desprezados e o estado de abandono no qual se encontram vários edifícios do centro da cidade. “Como os animais, os prédios não têm voz, então imaginei uma fusão entre eles e a comunicação através do olhar. A troca de olhar é a primeira etapa para se ter consideração por alguém ou dar valor a alguma coisa”, pontua o artista francês interessado em destacar a vida do centro da capital. “Se os olhos são o espelho da alma, então fica agora comprovado que os edifícios têm uma alma”, brinca.
Reprodução: Assessoria Texto Imagem
Na noite da Virada Cultural, o público foi convidado a subir gratuitamente ao andar 43 do edifício Mirante do Vale, espaço cultural sob curadoria do artista, para contemplar a cidade "através do olhar de um arranha-céu”. Andral também reservou surpresas, desenvolvendo dispositivos que permitiram ao público interagir à distância com os diversos olhos.
Por fim, o artista detalhou ao público participante o processo de criação para que qualquer um consiga criar seus próprios olhos e instalá-los em casa por um custo acessível. "Seria maravilhoso se a instalação passasse a se estender de maneira orgânica para outros bairros. São Paulo é a cidade que não dorme, então seria até lógico que os prédios passassem as noites de insônia conversando olhos nos olhos”, completa.
Fonte: Assessoria Texto Imagem
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