*Por Veridiana Atanasio Scalco, Dra. Eng. Civil, arquiteta e diretora executiva Janela lab, que atua com consultorias especializadas; e Gustavo Lemke Truppel, arquiteto júnior Janela lab
Já parou para pensar no contexto urbano da sua casa? Nas construções ao redor, árvores (ou a falta delas) e todos os elementos que causam sombra, protegem do vento ou expõem o seu lar às adversidades do clima? As escalas entre casas e a cidade são incomparáveis, mas é inegável que exista uma relação entre elas. A casa relaciona-se com a cidade através de suas aberturas para o exterior, seja através de portas, janelas ou outros elementos, pelos quais a paisagem se revela: diferentes tamanhos, proporções, composições e cores emolduram o céu e a vista para além da casa.
O ambiente urbano criado por esta paisagem, juntamente com a caracterização do clima, horário e período do ano, transforma a disponibilidade de luz natural e modifica a percepção dela nas edificações. Contudo, ao se falar de luz natural — e sua associação com o ganho de calor —, o meio urbano é apenas uma das camadas que interferem no caminho entre a pessoa e o céu.
A primeira camada pode ser caracterizada pelo próprio ser humano, que apresenta diversos mecanismos de regulação frente às adversidades externas, como excesso de calor ou frio, excesso de luz ou falta. Mas não vivemos só de percepções físicas: os aspectos mentais e psicológicos da relação entre a pessoa e a luz natural também devem ser levados em consideração, a exemplo da abordagem da neuroarquitetura. Tal prática tem como premissa projetar ambientes eficientes em termos de aspectos técnicos, como o conforto ambiental, mas também baseados em evidências através de índices como felicidade e bem-estar; aspectos que, por sua vez, têm tido uma demanda crescente, especialmente após a pandemia de COVID-19. Cada dia mais clientes solicitam a saúde e bem-estar como foco principal de seus projetos. Neste sentido, a luz natural adequada proporciona a regulação de hormônios responsáveis por uma série de processos fisiológicos relacionados ao ciclo dia-noite — ou ciclo circadiano —, contribuindo na saúde, qualidade do sono e energia do indivíduo.
A segunda camada é formada pelas vestimentas e acessórios. Estes têm papel complementar aos mecanismos de regulação humana na busca pelo conforto. Exemplos comuns são a utilização de roupas brancas em dias de calor acentuado, já que essa cor diminui a absorção da luz solar e, consequentemente, o ganho de calor, e também o uso de óculos escuros, que protegem os olhos da luz excessiva.
A edificação, por sua vez, pode ser entendida como a terceira camada — e esta, então, tem relação direta com a atuação profissional de arquitetos e urbanistas, bem como é objeto de normas técnicas e legislações. Por ser elemento de separação entre ambientes internos e externos, o edifício funciona como filtro dos elementos que são admitidos em seu interior, tendo as aberturas, justamente, como elemento específico responsável por tal função. Pequenas adequações na localização e dimensão de esquadrias, além de prever o controle da luz solar direta significa reduções no consumo de iluminação artificial, além de proporcionar mais saúde para as pessoas que ocupam o espaço interno das edificações; nesse sentido, a consultoria de profissionais especializados pode acarretar um ganho considerável ao projeto e seus habitantes.
Ainda no que tange às edificações, recentemente entrou em vigor a norma de Iluminação Natural de Edificações (ABNT NBR 15215-3), que traz diversos aspectos a serem considerados e alinha-se a práticas internacionais em relação ao tema. Também a Norma de Desempenho Lumínico (ABNT NBR 15575), que continua em revisão, traz requisitos de desempenho para edifícios residenciais com mais de cinco pavimentos, entretanto, tem sido buscada como referência também para edifícios mais baixos.
A quarta camada é a cidade e o contexto urbano das edificações que, com seus diversos elementos, afetam as condições de iluminação natural, radiação solar e visão do céu que chegam até a edificação. Nesse sentido, o planejamento e a gestão urbanos ao longo do tempo são fundamentais para definir os limites desta ocupação.
Em pelo menos duas dessas quatro camadas o profissional arquiteto e urbanista tem papel essencial na busca pelo conforto ambiental e saúde, seja na definição das volumetrias de seus projetos que irão lidar com o contexto urbano, seja através das especificações de abertura que irão filtrar e dosar a luz e radiação disponíveis ao edifício. Tais requisitos somam-se, ainda, às normativas, intenções de expressividade arquitetônica e todas as outras facetas que fazem de um projeto arquitetônico objeto tão complexo e fundamental para um habitat saudável e de qualidade.
Veridiana Atanasio Scalco e Gustavo Lemke Truppel/Reprodução: Janela lab
SOBRE A JANELA LAB
Especializada em iluminação natural e artificial.
Segmento relacionado à luz natural: suporte para o atendimento à NBR15575 – Desempenho Lumínico, análise de aberturas e projeto de brises e aberturas em coberturas.
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