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Equipe Contramarco

É POSSÍVEL CONSTRUIR COM PALHA?

A prática de construir com palha existe desde o começo das civilizações. Seria a palha uma alternativa viável e biogênica aos atuais materiais de construção tendo em vista os impactos devastadores das técnicas contemporâneas de construção?

Reprodução: Arch Daily

Há indícios de que palha e junco foram utilizados na construção há mais de 10 mil anos. Desde então, a revolução industrial mudou completamente as práticas de construção, introduzindo a produção em massa de aço, vidro e, não menos importante, de concreto.


No entanto, o colossal impacto climático e ambiental dos materiais de construção industrializados é tão indiscutível como a sua resistência e nos deixa numa encruzilhada que exige que reescrevemos essa história.


Segundo o arquiteto-chefe de design Magnus Reffs Kramhøft do escritório dinamarquês Henning Lansen, a palha tem potencial uso na arquitetura moderna.


POR QUE PALHA?


A palha refere-se aos caules secos ou caules de culturas de cereais, como trigo, arroz, cevada e aveia, que são colhidas após a remoção do grão e pode se tornar um ator chave na descarbonização da indústria da construção já que é vantajoso em comparação com muitos outros materiais quando se trata de sustentabilidade ambiental.


O material oferece muitas vantagens, como ser um recurso renovável e biodegradável. Como a palha é um subproduto agrícola amplamente disponível, construir com ela libera menos carbono em comparação com a compostagem ou a queima do material. Além disso, a palha evita procedimentos de fabrico complexos e reduz significativamente o consumo de energia para produção e transporte, minimizando efetivamente a sua pegada de carbono.


Reprodução: Arch Daily

Ao contrário da crença popular, a palha resiste muito bem ao fogo e pode ser acondicionada de forma tão densa que, sem oxigênio para alimentar o fogo, combinada com gesso de argila, pode suportar mais de duas horas de chamas de 1050°C. A palha possui alto teor de sílica, um retardador natural de fogo e ao ser queimada, cria na superfície uma camada isolante de carvão que a protege das chamas.


Recentemente o escritório Henning Lansen criou uma fachada altamente resistente ao fogo para a Sundby School que passou por vários testes de incêndio e análises sequenciais e foi aprovada pelo DBI, o Instituto Dinamarquês de Tecnologia de Incêndio e Segurança.


Durante o projeto de detalhe, liderado por Skala, optou-se por dividir a fachada em quatro seções. Inicialmente, houve uma tentativa de separá-los com madeira, mas esta abordagem se mostrou ineficaz nos testes de fogo. No final, a solução passou pela implementação de barreiras corta-fogo. Estas barreiras isolam totalmente as secções e impedem a propagação do fogo pela fachada de palha.


DURABILIDADE


A palha é um material construído para durar, e as técnicas modernas de construção com este material datam do início do século passado. Muitas dessas estruturas ainda existem hoje.


Ao projetar uma estrutura que pode ser desmontada (como a Escola Feldballe também projetada por Henning Lansen), pode-se trocar painéis individuais caso haja algum vazamento ou dano em uma área específica do edifício.


Escola Feldballe. Reprodução: Arch Daily


Na Sundby School, a fachada pode ser reformada no final do ciclo de vida em 20-30 anos. Sua vida útil também pode ser maior se for bem mantida de forma contínua.


Em relação ao desgaste promovido por insetos e roedores a palha é pouco atraente para esses. No entanto, medidas de precaução ainda devem ser tomadas em áreas ativas de cupins para salvaguardar a estrutura.


Na América Latina, Oriente Médio e África, civilizações ancestrais e indígenas já utilizavam a palha e o junco para criar construções resistentes em aldeias, muitas das quais existindo até hoje com a manutenção correta e os cuidados adequados às intempéries e à passagem do tempo.


REPENSAR A CONSTRUÇÃO

Repensar a escolha dos materiais recorrendo a materiais biogênicos e técnicas de construção histórica apoia uma redução notável das emissões de CO2. É preciso tempo e esforço para introduzir “novos” materiais no mercado. Mas precisamos insistir e pressionar a indústria a escolher soluções de baixo carbono.

Fonte: Arch Daily


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