Edição nº159 jan/fev 2023
EXISTE DIFERENÇA ENTRE LINHA E SISTEMA?
Colaboraram: Stephanie Fazio (reportagem) e Emanuelle Ormiga (estagiária)

Com este tema em mente, Contramarco saiu em busca de respostas. Afinal, existem diferenças entre linhas e sistemas de esquadrias e fachadas?
No mercado, parece que não há opinião unânime a respeito deste assunto. Algumas empresas do setor consideram que os dois termos são sinônimos, já outras apontam distinções entre o que é linha e o que é sistema, já que é preciso avaliar o nível de complexidade de cada produto, se há atendimento às normas técnicas, entre diversas outras características.
Nas primeiras semanas de janeiro de 2023, a equipe Contramarco entrou em contato com empresas parceiras desenvolvedoras de sistemas e fabricantes de esquadrias, buscando reunir informações abrangentes e importantes sobre o tema desta reportagem especial. As respostas que a equipe recebeu podem ser conferidas nas páginas da edição impressa, ou no site na área exclusiva para assinantes.
DIFERENÇAS
Linhas e sistemas não são iguais para Antônio Cardoso, experiente consultor de esquadrias com formação em projetos e economia, sócio da AC&D Consultoria em Alumínio e Participações e representante da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal) nas Comissões da ABNT, em ao menos 20 NBRs. O especialista é autor dos livros “Esquadrias de Alumínio no Brasil” (Pro Editores/Alcoa, 2004, 304 páginas) e “A Conquista do Desempenho” (All Print Editora/Afeal, 2022, 312 páginas).
Cardoso explica que uma linha de esquadrias, basicamente, envolve os perfis necessários para se produzir algumas tipologias, dentro de uma bitola específica, como por exemplo a linha 25, utilizada para a fabricação de janelas, ou a linha 30, aplicada em portas, assim como a linha 42, para portas de tamanhos maiores.
“Uma linha não necessariamente tem componentes específicos para seu uso, assim como não tem ferramentas padrão para as usinas devidas. Um destaque, talvez o mais importante, é que não há o compromisso com as devidas situações de desempenho, tais como a fonte de fornecimento, comprovantes de testes, atendimento das normas, entre outros supostos agravantes”, observa Cardoso. “A denominação utilizada no mercado é: ‘linha aberta’, sem necessariamente uma origem”.
O especialista conta que, na década de 1980, alguns acontecimentos (ver quadro “Evolução Histórica das Esquadrias de Alumínio no Brasil”) trouxeram avanços para o desenvolvimento do setor de esquadrias de alumínio no design, fabricação, logística, instalação, uso de componentes apropriados, conforto acústico e automação, sempre tendo a participação da procedência e com o comprometimento das devidas normas.
“Um sistema pode substituir uma linha de esquadrias, sem problemas!”, ressalta Cardoso. “Já uma linha de esquadrias, dependendo da tipologia, não pode substituir um sistema, como por exemplo, uma ‘abre e tomba’ [ou oscilobatente], pois não tem perfis e componentes compatíveis para exercer suas funções”. Outra questão que ele aponta está nos tamanhos de determinadas tipologias, com linhas que não atendem aos requisitos, somando-se a questão de acústica, entre outros itens. “Caso a substituição de um sistema por uma linha venha a acontecer, sugerimos a execução dos testes conforme a NBR 10821, do ponto de vista: estrutural, vedação, funcionamento, acabamento, entre outros fatores presentes nessa norma técnica”, recomenda Cardoso. “Entretanto, cabe comentar que existem situações de obra, como por exemplo envolvendo pouco volume, ou prazos com situação de urgência, ou até mesmo um detalhe técnico, em que usamos o recurso de uma linha. Neste caso, entra a experiência do projetista e do fabricante”.
Cardoso diz que, em geral, as linhas têm sido utilizadas em obras de pequeno e médio porte, em projetos residenciais ou complementares. “Porém, independente do nível da obra, as esquadrias devem obedecer às normas e solicitações vigentes, sejam linhas ou sistemas!”, enfatiza, acrescentando que no setor, como um todo, já existe a predominância de sistemas. “No comercial, industrial e hospitalar, a presença é praticamente absoluta dos sistemas”. Cada vez mais, nas obras de médio e grande porte, independente do segmento, os empreendedores têm exigido o cumprimento das normas para os produtos utilizados nas edificações, especialmente agora, com as regras de acessibilidade e a de garantias, oficializada recentemente. “Na maioria dos casos, são pedidos os comprovantes e testes realizados, com as esquadrias fazendo parte dessa solicitação”, informa o consultor.
Atualmente, o segmento popular ou econômico já conta com uma crescente participação de sistemas, segundo Cardoso, que costuma nomear de “sistema em série”, mas que, normalmente, é chamado de “janela padronizada”, cujo fabricante tem suas próprias características de projeto, produção, logística e instalação feita pela construtora. “Nas obras que contam com a participação do Governo ou da Caixa Econômica Federal, além das normas, é exigido o Plano Setorial da Qualidade (PSQ)”, lembra o especialista.
TENDÊNCIAS
Sobre as linhas, Cardoso acredita que estas serão sempre utilizadas, incluindo determinados aperfeiçoamentos. “Por exemplo, recentemente foram lançados produtos para conexões dos cantos de folhas cortadas a 45 graus, como se usa na Europa, uma solução muito melhor do que o tipo macho e cunha utilizado no mercado nacional”, avalia, lembrando que uma parte do mercado prefere a liberdade de compra, tendo para si a responsabilidade da especificação, o uso, a questão do quantitativo, a facilidade de encontrar produtos em estoque e o custo.
No caso dos sistemas, o consultor prevê que o uso deverá crescer significativamente nos próximos anos, subdividindo o tema em três partes:
• Alto e médio padrão: “cada vez mais notamos a amplificação dos tamanhos da solicitação pela arquitetura, das placas de vidro, e por consequência, maior solicitação da parte estrutural, esforços de uso, assim como os vidros duplos, acústica, design, outras tipologias, automação, acessibilidade, entre outras da estratégia da diferenciação”.
• Padrão base, residencial base: “é notável o crescimento deste segmento de mercado! É a industrialização da construção civil, tanto no vertical como no horizontal. E o mais importante: tem que cumprir as NBRs solicitadas! Nesta opção, devem ser considerados pontos como a produção (se possível, já tendo um pouco da robotização), a padronização de tipologias, assim como medidas definidas de acabamento de vãos, logística, facilidade de instalação, somando-se o principal: custo competitivo, via as estratégias do volume com a da diferenciação”.
• A esquadria do futuro: “Conforme citei na edição do meu segundo livro (‘A Conquista do Desempenho’), já passou da hora de buscarmos a argumentação de que a esquadria inteligente passa a ser um investimento, e não ser mais um custo, citando por exemplo a esquadria com captação da energia solar”.

